FUI REVER O LUGAR QUE FUI NASCIDO/ SENTI TANTA SAUDADE QUECHOREI
FUIO REVER O LUGAR QUE FUI NASCIDO
SENTI TANTA SAUDADE QUE CHOREI...
Eu sai daqui da minha cidade
Fui olha o meu velho pé-de-serra
O meu lar, o meu berço, a minha terra
Por quem guardo carinho e amizade
Hoje moro em outra localidade
Bem distante de onde eu me criei
Mas depois de algum tempo lá voltei
Só pra ver o que tinha acontecido
Fui rever o lugar que fui nascido
Senti tanta saudade que chorei
Não existe mais o curral do gado
Com o tempo foi tudo destruído
Só existe um cocho envelhecido
Demonstrando o que era no passado
Eu fiquei um tanto emocionado
Ao lembrar-me do leite que tirei
Dos momentos felizes que passei
Eu lembrei e fiquei tão deprimido
Fui rever o lugar que fui nascido
Senti tanta saudade que chorei
Ainda existe o velho umbuzeiro
O da horta, assim era chamado
A umburana ficava do seu lado
Bem pertinho entre ele e o barreiro
Mas ali também tinha um juazeiro
Eu me lembro a muito eu derrubei
E a sua madeira aproveitei
Fiz carvão, e devo ter vendido
Fui rever o lugar que fui nascido
Senti tanta saudade que chorei
Não tem mais o poleiro das galinhas
O chiqueiro dos porcos destruído
O banheiro se encontra demolido
Não tem mais a porteira da cozinha
Não consigo lembrar tudo que tinha
Só um pouco de tudo eu narrei
Só Deus sabe o desgosto que passei
Se eu soubesse por lá não tinha ido
Fui rever o lugar que fui nascido
Senti tanta saudade que chorei
E a carga de palma que eu cortava
E as tiradas de espinhos de cardeiro
Derrubadas de galhos de facheiro
E as coivaras com que eu os assava
E depois para o gado espalhava
De tão quente eu quase me queimei
E o capim que na várzea eu tirei
Para o gado faminto e emagrecido
Fui rever o lugar que fui nascido
Senti tanta saudade que chorei
Não tem mais a casa que morava
O terreiro nem sei mais onde era
No lugar só existe hoje a tapera
Só um monte de terra lá restava
A velha quixabeira em que brincava
Derrubaram não mais a encontrei
O barreiro com zelo eu limpei
Hoje está desprezado e entupido
Fui rever o lugar que fui nascido
Senti tanta saudade que chorei
Não ouvi mais o canto da cigarra
Nem o grito feliz da seriema
Não tem ninhos nos galhos de jurema
Que os ferreiros faziam sua farra
Aninhavam-se com tanta algazarra
Muitas vezes com eles me irritei
Até pedras em seus ninhos eu joguei
Hoje em dia estou arrependido
Fui rever o lugar que fui nascido
Senti tanta saudade que chorei
Não tem mais a porteira da estrada
Nem o caminho que ia pra Riacho
Nem o outro que ia lá pra Baixo
Acabou não sei onde era nada
E a casa que eu fiz ta desprezada
Nem parece que um dia eu morei
E com tanto cuidado eu zelei
E agora está tudo destruído
Fui rever o lugar que fui nascido
Senti tanta saudade que chorei
Não tem mais a pedra de amolar
Nem o trilho de se bater enxada
A braúna também foi derrubada
O angico não está mais no lugar
Até mesmo um pé de gravatá
Que existia também não encontrei
E o roçado em que tanto eu plantei
Não vi mais, está desaparecido
Fui rever o lugar que fui nascido
Senti tanta saudade que chorei
E assim terminei minha viagem
Dessa volta que dei ao passado.
No papel deixei tudo registrado
A história em forma de mensagem
Só me resta lembrar a paisagem
Disso tudo que lá não encontrei
Até mesmo papai que eu tanto amei
Já deixou este mundo, é falecido
Fui rever o lugar que fui nascido
Senti tanta saudade que chorei
Carpina, 11/05/1998
Carlos Alberto de Oliveira Aires
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