SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE/ NEM QUE FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO...

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE/ NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO...

Literatura de Cordel

Autor: Bob Motta

N A T A L – R N

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Na poesia, dô sempre o meu recado,

mais meu verso num é feito de repente.

Seu dotô, êle retrata fiéimente,

a sodade qui eu sinto do passado.

Dô valô a um verso bem rimado;

meu poema é feito no coração.

Quando toma a fóima de canção,

lacrimêjo na dô de uma sodade,

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

No meu tempo de muleque in Natá,

incruzei, nadando, o Rio Potengí.

Era uma festa, a pescaria de sirí,

era uma brincadêra colossá.

Mode uis bonde na ladêra, imperrá,

nuis seus trilho, nóis passava sabão.

Uis vigia sufria nais nossas mão,

era munta safadeza, mais verdade,

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

Fui muleque, sempre gostei de munganga,

adorava uví uis bebum dizê lôa.

No putêro de Dona Maria Boa,

muntas vêiz, pulei o muro e roubei manga.

Adorava ais batucada dais charanga,

na fuzarca, eu fazia animação.

Me aconchego na doce recordação,

do passado cheio de felicidade,

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUE FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

No meu tempo de muleque num havia,

ôta droga qui num fôsse a cachaça,

na “marvada”, imburaquei achando graça,

sem notá o grande má qui me fazia.

Trinta ano, seis mêis, dizessete dia,

vegetei, eu na saigêta, sem perdão.

Mêrmo tendo, sufrido de muntão,

sinto farta só da minha liberdade,

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

Mais hoje faiz quinze ano qui eu num toco,

numa só gôta de áico, seu dotô.

Troquei mé, pru poesia e puramô,

a cachaça, nem de longe é o meu foco.

Solidão num faiz parte do meu bloco,

a muié é a minha inspiração.

Meu poema, minha letra de canção,

minha musa qui me traiz felicidade,

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

O meu pai me levô, piquininíin,

p’ru sertão do Carirí paraibano,

e eu lhe juro, qui êsse foi, seu fulano,

o maió duis bem qui êle fêiz a mim.

Na fazenda, livre cuma um passaríin,

tive uma priciosa fóimação.

Uis forró, ais fuguêra de São João,

fôro a minha grande Universidade,

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

Júlio Prêto, vaquêro e Professô,

fêiz ais vêiz de um mestre geniá.

Ôto cabra, p’ru munto me insiná,

foi João Motta, meu pai, o meu Reitô.

Tempo bom qui prá mim, nunca passô,

eu guardei na memóra cum emoção.

A lembrança me traiz inspiração,

p’ru meu verso, cum orgúio e cum vaidade,

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

Quando eu era garôto, nem ligava,

p’rá cunsêio ô quaiqué insinamento.

Na verdade, nem dava cabimento,

p’ráis lição qui uis mais véio me passava.

E aí, era onde eu me lascava;

me achando qui era um sabichão.

Apanhava e aprindia a lição,

reafirmo cum munta sinceridade,

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

Sinto farta dais festa do passado,

dais retrêta, tombém dais aivorada;

quando ais banda, cedíin, de madrugada,

acordava o povo cum dobrado.

O coreto era tôdo infêitado,

era aimado na praça, o pavião.

Um véíin, vindia no leilão,

doação de tôda a cumunidade,

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

Ais pastôra se assubia no palanque,

a mininada, in páima, ixprudia,

o paiáço cunversava putaria,

e a mundiça ixprudia in gargaiáda.

Uis rapaiz rebocava ais namorada,

p’ro iscuro, detráis do pavião.

Uis bebum s’iscorava nuis baicão,

dais budega da pequenina cidade,

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

Lá no parque, uis minino se ajuntava,

p’ro balanço isagerado nais canôa.

No meu tempo era uma coisa boa,

vê quem era o qui mais arto balançava.

Se numa queda, vêiz purôta, um se lascava,

do seu pai, era tabefe e um sermão.

No ôto dia, era a merma ajuntação;

era a mêrma sacanage, na verdade,

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

Nuis meus verso, tudo isso a rescordá,

de emoção, choro qui nem uma criança.

É relíquia qui guardo na lembrança,

qui prá minha catatumba, eu vô levá.

Eu morrendo, você pode afirmá,

qui eu viví minha vida, de rojão.

Munto amei, fui amado de muntão,

meus amigo, cum tôda sinceridade;

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO...

OBSERVAÇÃO:

Esse tema; SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE/ NEM QUI FÔSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO; me foi passado por uma professora da Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Norte, durante um evento para a capacitação dos professores. Ela me deu o tema e o desenvolvimento do mesmo; é de minha legítima autoria.

Autor: Roberto Coutinho da Motta

Pseudônimo Literário: Bob Motta

Da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte

Da União Brasileira de Trovadores – UBT – RN

Do Inst. Hist. e Geog. do Rio Grande do Norte

Da Comissão Norte-Riograndense de Folclore

Da Ass. dos Poetas Populares do RN – AEPP

Da União dos Cord. Do Rn – UNICODERN

Do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB

Telefone: (0XX84) 9965-6080

E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br

Site: www.bobmottapoeta.com.br

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 22/02/2008
Código do texto: T871332
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