UMA QUEIMADAS DO FUTURO - UM SONHO INUSITADO - Ampliado 2025

QUEIMADAS, JANEIRO/2025

Apresento uma nova versão do cordel de 2014, ampliada e mais contextualizada.

Certa noite eu tive um sonho

Uma visão pra lá de inusitada,

De um realismo tão profundo

E com cenas tão detalhadas

Que pouco lembrou fantasia,

O que me fez buscar na poesia

Uma narrativa aproximada.

Pode até parecer bobagem

As estórias que irei descrever,

Porém, como fogem do real,

Tudo é bem possível acontecer.

Não estou inventando, eu juro,

Imaginei Queimadas no futuro,

Onde o mundo todo pude ver.

Cenas do cotidiano e também

De todo acontecimento recente,

Nesse sonho eu pude vislumbrar

Idealizando uma viagem na mente.

Mas, apenas no papel de espectador,

Como que diante de um “cronovisor”,

Sem interferir de corpo presente.

Para tanto precisei utilizar

Toda a minha imaginação,

Tentando, enfim, compreender

Várias décadas de evolução.

500 anos tinham se passado,

A cidade havia atravessado

Por uma ampla modificação.

Foi o mesmo período de tempo

Desde o descobrimento do Brasil.

Coincidência no sonho, eu só sei

Que de 1500 até os anos dois mil,

O país não desenvolveu quase nada.

Em comparação com Queimadas

Que, nestes 500 anos, só evoluiu.

Pois falando em desenvolvimento

Nada que se compare ao progresso

O qual Queimadas alcançou com êxito,

Comprovadamente, obtendo sucesso.

Cinco séculos se passaram, a se saber,

Todo o município cresceu pra valer,

Envolvendo a todos nesse processo.

Numa retrospectiva do tempo

Fiz uma busca do que passou,

E, contemplando a realidade

Que o sonho me apresentou,

Vi um lugar muito diferente,

Nada se via do nosso presente;

Toda área física se transformou.

As ruas principais do centro

João Barbosa e Eunice Ribeiro,

Sofreram inúmeras alterações,

Bairros se modificaram por inteiro.

A cidade evoluiu num grande salto,

Queimadas tinha prédios tão altos

Que mais lembrava o Rio de Janeiro.

Sim, o ano era exatamente este,

O calendário não deixava mentir.

Dois mil quinhentos e vinte e quatro (2524),

Quanta coisa aconteceu até aqui!

Inúmeras gerações que se passaram,

Milhões de coisas se transformaram,

Modificaram ou deixaram de existir.

As mudanças mais impactantes

Estavam no cenário urbanístico,

O núcleo da cidade tão radiante

Ganhara um aspecto futurístico.

Edifícios modernos, luzes de neon

À noite lembravam ruas do Leblon,

Atraindo certo potencial turístico.

Era o sonho da “Nova Iorque”

Por alguma gestão anunciado,

Após vários mandatos eletivos

Fora então, finalmente alcançado.

Prefeitos sérios, com determinação,

Deram ao povo sua contribuição,

Em prol de um lugar avançado.

E nesse contexto, ficaram de fora

Ideologias e atuais formas de poder.

A política mudou todo seu formato,

Esquerda ou direita, nada tinha a ver.

Havia novas regras para se governar,

Os Três Poderes resolveram se aliar,

Havendo mais transparência ao reger.

E não somente a gestão pública,

Como também a iniciativa privada,

Donde surgiram vários investidores

Resolvendo apostar em Queimadas.

Ao longo do tempo toda a cidade

Rendeu-se de vez à prosperidade,

Crescendo de forma acelerada.

Um mérito esse do comércio local

Que impulsionou tal crescimento,

Diversas empresas aqui se instalaram

Gerando enorme desenvolvimento.

Queimadas demonstrando potencial

Tornou-se importante polo industrial,

Fazendo sua história em pouco tempo.

A localidade se dividia agora

Em várias zonas de expansão,

E como toda grande metrópole,

Crescera também em população.

O município inteiro se expandiu,

Seu povo já somava dez mil x mil,

Havendo um déficit na habitação.

Os problemas de cidade grande

Vieram todos no mesmo pacote,

Assaltos, sequestros, homicídios,

Crimes e infortúnios de toda sorte.

Existia trabalho para todo mundo,

Mas ainda havia ladrão, vagabundo

Que só temiam a pena de morte.

No ano de 2062, precisamente

Nos seus 100 anos de existência,

Queimadas há muito se destacava

Como uma cidade de referência.

Proporcionalmente, digo até mais,

Deixara Campina Grande pra trás,

Provando assim sua competência.

Mas o meu sonho fora além,

Estávamos no século XXVI,

Muitos projetos do passado

E que antes, não tiveram vez,

Agora se tornavam realidade;

A cura pra várias enfermidades,

Enorme avanço na ciência se fez.

Muitas doenças vieram a surgir,

Grandes e incessantes pandemias,

Mas o mundo estava preparado

E a ciência em pouco tempo agia.

Governantes mudaram a concepção,

E, embora ainda tivesse corrupção,

Em educação e saúde se investia.

O conhecimento e a tecnologia

Fizeram do mundo obra de arte,

A automatização era evidente,

Havendo robôs por toda parte.

Relativo à economia e crescimento

O planeta progrediu em 100%,

Tendo a poluição como contraste.

A natureza - ou o que restou dela -

Ainda lutava para ser preservada,

Para que as gerações seguintes

Não fossem de vez ameaçadas.

Na medida em que a Terra evoluía

A qualidade de vida desaparecia,

E todas as classes eram afetadas.

A violência ferozmente acentuada

Tornava o mundo mais decadente,

As drogas eram praga anunciada,

Mais letais, mortalmente eficientes.

Nações em guerras se destruíam,

Corações desiludidos endureciam,

Buscando na fé soluções ausentes.

As religiões a mil se multiplicavam

Como ópio, tranquilizavam o povo,

Mas nem por isso a humanidade

Recusava-se em buscar algo novo.

Uma era moderna pedia passagem

Com suas invenções e engrenagens,

Dominando a terra, água, ar e fogo.

Com o mundo todo informatizado

Generalizou-se o uso do computador,

Globalização virou coisa do passado,

A “universalização”podia se propor.

A Ciência e tecnologia em toda parte,

O homem, inclusive, já habitava Marte

Aventurando-se como conquistador.

Muita parafernália científica

Que vemos em filme de ficção,

A essa altura a humanidade

Já proporcionara sua invenção.

Exceto algo que ainda lhe seduz:

Conquistar a velocidade da luz,

Adiando para a infinita geração.

Quanto ao Brasil, por sua hora e vez,

Desempenhando aumento profundo,

Apesar de tanto roubo, tanta corrupção

Entrou finalmente no primeiro mundo.

A região Nordeste avançou sem risco

Com a transposição do rio São Francisco

O Sertão virou mar e seu solo fecundo.

Nosso pequeno Estado da Paraíba

Passou como nunca a produzir,

Com sementes e cultivo adequado

A evolução se estabeleceu por aqui.

Agrônomos semeavam fertilidade,

Modernização do campo à cidade,

Crescimento do Sertão ao Cariri.

Durante este sonho também pude ver

As consequências de um mundo louco,

Relembrando as tradições e costumes

Os quais se perderam pouco a pouco.

Filhos que já não obedeciam aos pais,

Longe de princípios e valores morais,

Tratando professores na base do soco.

Nesse contexto, a vivência foi afetada,

As virtudes se desviaram no caminho,

A juventude, uma geração fracassada,

Não demonstrava mais amor e carinho.

Aquela boa educação, de base familiar,

No futuro não haverá de se encontrar;

Filhos desde cedo vão se virar sozinho.

E no decurso dessa era caótica

Tudo de melhor que já existiu,

A exemplo da cultura, das artes...

Infelizmente, o mau gosto engoliu.

A boa música, apenas pra lembrar,

Virou artigo raro de se encontrar,

Havendo só imundície no Brasil.

A nostalgia se revelava a saída

Para aqueles mais inconformados,

Um refúgio para os saudosistas

Que optavam buscar no passado

As produções que se perderam,

E os ignorantes não perceberam

Ao difundirem lixo midiatizado.

Voltemos, pois, a focar Queimadas,

Delimitando este sonho eloquente.

Minhas observações quanto ao futuro,

Em comparação com o nosso presente,

Revelam que o lugar avançou bastante.

Já não era tão pequeno quanto antes,

Evoluindo de forma surpreendente.

Lembrando que a história mostra

Que Queimadas é bem mais antiga,

Fora fundada ainda no século XVIII

Com características de pequena vila.

Ligada a Campina Grande, está escrito,

Há muito permanecera sendo distrito;

Antes de emancipada, gerou até briga.

A partir de 1940 tentaram registrar

Essa vila próspera como Tataguassu,

Na época, ninguém quis ouvir falar,

Causando assim, tremendo “sururu”.

O nome indígena seria para lembrar

As origens e o surgimento do lugar,

Um céu que sempre se revelou azul.

Já a Queimadas que vi no futuro

Em nada lembrava o seu passado,

As ruas, avenidas e até viadutos,

Túneis por toda parte espalhados.

Um trânsito confuso se instalara

E a vida tranquila era coisa rara,

Havendo iniquidade por todo lado.

No entanto, a cidade crescia

Dentro de certo planejamento,

Uma política de infraestrutura

Dava o respaldo e embasamento.

E assim, prefeitura e empresariado

Uniam forças no mesmo traçado,

Em benefício do desenvolvimento.

Os fins justificavam os meios

E Queimadas investira pesado,

Um moderno terminal rodoviário

Enviava ônibus para todo Estado.

Obras que surgiam a todo vapor,

Inclusive, a construção de um metrô

Tornando o município interligado.

E se Queimadas atualmente clama

Por transporte público de qualidade,

Saibam que no futuro até um metrô

Cruza todos os bairros dessa cidade.

Hoje sequer tem um ônibus, que sina,

Pra se deslocar e chegar até Campina;

É um desrespeito com a dignidade!

Porém, ao longo desses cinco séculos

Queimadas e município se via crescer.

Torna-se impossível lembrar de tudo,

Mas, enfim, vou buscando descrever

Os avanços da ciência e da tecnologia.

Novas edificações surgiam a cada dia,

Até nas comunidades rurais podia ver.

Sem esquecer-se da penitenciária,

Heliporto, aeroporto internacional,

Investimentos na área de saúde,

Em prevenção e segurança total...

Havia compromisso só em crescer,

Ainda que não conseguisse resolver

Problemas relacionados ao social.

Como em toda cidade avançada

Havia bairros menos favorecidos,

A vida “perfeita” era pros abastados,

Ricos e empresários estabelecidos.

Na “banda podre” de Queimadas

A lei era descumprida e ultrajada,

Sendo o “Bairro 13” dos esquecidos.

Era a infância sendo corrompida,

Estupros ocorrendo à luz do dia,

Mendigos e menores abandonados,

Prostituição era o que mais se via.

Delinquentes juvenis, gente do mal

Buscava na droga apoio emocional;

O “Underground” se estabelecia.

A população já não podia comportar

Essas “subclasses”e a criminalidade,

Buscavam-se, pois, atitudes enérgicas

“Erradicando-os”de vez da sociedade.

Mesmo eficiente, a lei em Queimadas

Psicologicamente era despreparada,

Resolvendo o problema pela metade.

Alheias a quaisquer dificuldades

Todas as autoridades se fechavam.

Para dirigentes, religiosos e juízes

Tais infelizes pouco importavam.

Se a vítima fosse um reles viciado,

Transferiam o problema pro Estado,

Na medida em que se afastavam.

Reinando assim, toda a hipocrisia

E descaso com os problemas sociais.

De nada adianta um sistema de cotas

Se as oportunidades não são iguais.

Por gerações, a desigualdade somou.

Em séculos e milênios, nada mudou,

Rico e pobre não se misturam, jamais.

Isso ocorre desde tempos passados,

Quem pode pagar, tem tudo na mão.

O luxo e a riqueza são para poucos,

Pobre só sabe o que é ostentação.

Seja em pleno século XXI ou XXVI,

Os mais pobres nunca terão vez,

Amargando a miséria e a desilusão.

No futuro um dos pontos positivos

Estava no bem-estar proporcionado,

A modernidade a serviço de todos,

Um direito amplamente assegurado.

A busca por um mundo confortável

Tornava o planeta menos sustentável,

Tendo seus recursos quase esgotados.

E esse era o preço do progresso

Quem podia, se dispunha a pagar.

Porém, haviam leis em Queimadas

Onde tudo se obrigava a reciclar.

A vida urbana relativamente boa,

Só perdia pra capital, João Pessoa,

Sem pretender aqui comparar.

Foi fazendo essa viagem no tempo

Que eu pude contemplar exaltado,

Uma cidade crescendo verticalmente,

Um ambiente altamente sofisticado.

No lugar do antigo mercado municipal,

Ergueu-se uma praça monumental,

Um antigo sonho, enfim, realizado.

Existia em completo funcionamento

Um teatro e um amplo espaço cultural,

Um moderno centro administrativo

Com a prefeitura e Câmara Municipal.

E ainda se destacavam em toda a cidade,

Várias escolas técnicas e universidades,

Como também um estruturado hospital

Uma frota de automóveis luxuosos

Trafegava pelas ruas de Queimadas,

Hotéis cinco estrelas e até shoppings,

Para deleite das classes privilegiadas.

A moeda corrente entre rico e pobre

Não era mais papel, níquel ou cobre;

Havia uma debitação automatizada.

Museus e cinemas foram construídos,

Bem como uma moderníssima arena,

A “Queimadense” na elite do futebol

Vencia grandes clubes, sem problema.

Do baixo Castanho até a Vila de cima,

Cruzando pelo “Cássio Cunha Lima”,

Sonhei com uma cidade nada pequena.

Corpo de bombeiros, quartel militar,

Bibliotecas físicas e no campo virtual,

Fundações, Institutos, diversas ongs...

E até um jardim botânico municipal.

Sim, em Queimadas havia quase tudo,

Podendo mencionar ainda, sobretudo,

Um zoológico e um centro espacial.

Estátuas e bustos foram erguidos

Homenageando pessoas merecidas.

Espalhados pelos calçadões e praças,

Encontravam-se também nas avenidas.

Professor José Miranda, Padre Lisboa,

Dulce Barbosa, Tião do Rêgo, não a toa,

Figuras que jamais serão esquecidas.

Mas foi o turismo no município,

Ao contrário do que se pensa,

Que contribuiu com a economia,

Fazendo uma notável diferença.

Com seus mil atributos e atrativos,

Queimadas virou meio alternativo,

Atraindo turistas à sua presença.

Uma região tão rica por natureza

Não podia simplesmente ignorar,

Sua grande herança pré-histórica

Que, por milênios, pôde preservar.

Sítios arqueológicos foram criados

E com frequência eram visitados

Por estrangeiros de todo lugar.

O lajedo que leva à Pedra do Touro,

Incluindo toda a área compreendida,

Tornou-se uma bela estância ecológica,

Atraindo pessoas não só da Paraíba.

Vinha gente do Nordeste aos montes

Descer de rapel, banhar-se nas fontes,

Fazendo do turismo renda garantida.

Já no finalzinho desse sonho,

Antes de voltar pra realidade,

Procurei inutilmente descobrir,

Tentando saciar a curiosidade,

Algo sobre a minha existência,

Filhos, netos, toda descendência,

Gerando a minha continuidade.

Houve, porém, uma proibição

No tocante ao meu destino.

Nada eu podia ver ou saber;

O futuro de cada um é divino.

Ia depender do que se realizaria,

Das escolhas que eu ainda faria,

Como já o faço desde menino.

E após essa infindável noite,

Entre devaneios e imaginações,

Vim despertar no dia seguinte

Fazendo incontáveis anotações.

E, ao transcrever esse sonho ativo,

Resolvi anotar tudo neste livro,

Sempre fiel com as afirmações.