A INCRÍVEL VIAGEM DE
ZÉ SALVADOR A ITABORAÍ
Autor: William Mendonça
Hoje em Itaboraí,
Cidade de luz e cor,
Encontrei meu velho amigo
E mestre Zé Salvador,
Grande nome do cordel,
Poeta de enorme valor.
O mestre trouxe folhetos
E chegou feito turista
Pra conhecer a cidade
Tão bela que enche a vista,
Antiga e cheia de histórias,
Celeiro de tanto artista.
Foi à Casa de Cultura
Onde o talento acontece.
Tem show, tem exposição,
Tudo que o povo merece,
Até sarau de poesia,
Arte que se fortalece.
O sobrado muito antigo
É o legado de Heloísa,
A filha de Alberto Torres,
Pra cidade que precisa
De mais arte, mais memória,
Mais patrimônio e pesquisa.
Heloísa dirigiu
Nosso Museu Nacional,
Primeira mulher no cargo,
Relevância mundial,
Dama da Antropologia,
Enorme intelectual.
Junto à irmã Marieta,
Na década de 60,
Compra o sobrado antigo
Logo assim que se aposenta.
Manda reformar, sem pejo,
A joia que a Praça ostenta.
Tem nome de um Marechal
A Praça cheia de encanto
Onde passaram Macedo,
Que tinha lá seu recanto,
E João Caetano, ator
Que ainda causa espanto.
Foi lar de certo Visconde,
Que orgulhoso carregava
No título de nobreza
Esta cidade que amava.
Seu palacete na Praça
Resiste, de forma brava.
Hoje é sede do governo,
Mas já foi um orfanato,
Foi Palácio da Justiça,
Um maravilhoso ornato,
Centro do poder político,
História viva, de fato.
Está a Igreja Matriz,
No lugar de mais destaque.
Louva São João Batista,
Patrimônio de almanaque
Que se mescla com a História,
O tempo e seu tique-taque.
Imponente, a construção
Tombada pelo IPHAN,
Guarda tesouros da arte,
Mistérios da fé cristã.
Parte da vida de todos,
Liga o ontem ao amanhã.
A Praça também destaca
O Teatro João Caetano
Destruído e reerguido,
Após tanto desengano,
E a velha sede da Câmara,
Jamais em segundo plano.
Bom ir à Biblioteca
Que Macedo nos legou,
O autor d’ “A Moreninha”
Muito por ela lutou,
Hoje atende a todo povo
Bem como ele imaginou.
Caminhando pela Praça,
Vou contando essa história
Com grande risco de errar,
Até porque a memória
Pode se perder no tempo,
Por esses dias de glória.
Mas, não esqueça, foi lá
Que se deu triste mercado
A compra e venda do negro
Que antes fora escravizado.
Ali, tão perto da igreja,
Deu-se tamanho pecado.
Explico que esta cidade,
Tão boa e hospitaleira,
Usou a força do negro,
Cresceu por sobre uma esteira
De sangue e de sofrimento,
Que quase virou poeira.
Por isso, olhar esta praça
É lembrar de muita gente,
Artistas, nobres, políticos,
Que construíram o presente,
Mas recordar os anônimos,
Importantes igualmente.
Depois de tanta conversa,
Perguntou Zé Salvador:
“Além desta bela Praça,
Aonde ir, por favor?
Que outras belezas há
Nesta terra de valor?”
O lugar tem muito mais
Que essa Praça memorável.
Na área rural, um enlevo,
Viagem tão agradável,
Seus laranjais que resistem
Ao destino imponderável.
Não precisa ir tão longe
Pra encontrar a arte oleira,
Vasos de bela cerâmica,
Pelas mãos de gente ordeira,
Tradição feita em argila
Que toma a cidade inteira.
Já viveu tempos pujantes
De robusta Economia,
Ciclo da cana-de-açúcar,
Mineração e olaria,
Cimento, telhas, tijolos
Dos prédios de alvenaria.
A Fonte da Carioca
Abasteceu, com certeza,
Incontáveis gerações.
Um cantinho de beleza
Bem no Centro da cidade,
Urbanismo e natureza.
Travessa Espírito Santo,
Sua rua mais antiga,
Hoje é ponto de encontro
Dessa juventude amiga
Que vai lá pra fazer música
Na paz e no amor, sem briga.
Recomendei ao amigo
Visitar a cada igreja,
Muitas com mais de três séculos,
Vale encarar a peleja.
Ali perto a do Bonfim,
Mas são várias pra que veja.
São Barnabé, Itambi,
Lá tão perto da Baía,
Ou São Pedro e São Paulo,
Noutra bela freguesia,
Chamada Venda das Pedras
Onde comércio havia.
E lá em Porto das Caixas,
Um local de devoção,
O Cristo Crucificado,
Senhora da Conceição,
As ruínas do Convento,
Lugar de fé e oração.
Vá ver de perto a Lagoa,
(vista de pura opulência)
No bairro de São José,
E um espaço de ciência:
Parque Paleontológico,
Tão incrível experiência.
E visite o manguezal
Quando quiser aventura.
Lindo passeio de barco
Na natureza mais pura
Em Itambi, caranguejo
– Parte da nossa cultura!
Aqui não falta alegria,
Nem festas e tradições.
Pelos seus oito distritos,
Em todos os seus rincões,
Vai achar boa comida,
Noites de dança e canções.
Onde tremula a bandeira
Azul, branca e laranja,
Pra sempre será bem-vindo,
Um lugar sempre se arranja,
E espero, meu caro mestre,
Meu cordel não o constranja.
Zé Salvador, satisfeito,
Logo me fez o convite
Pra conhecer São Gonçalo,
Com que fazemos limite,
Aonde o mestre faz arte
E não há quem o imite.
Sei que posso ir um dia
Visitar aquela terra,
Conhecer suas belezas,
Pois meu guia jamais erra.
Será turismo em Cordel,
Tal qual este que se encerra.
FIM
Autor: William Mendonça
Itaboraí-RJ
Agosto de 2024
Feito na 1ª Oficina de Cordel
da Casa de Cultura Heloísa Alberto Torres.
Orientação e revisão técnica do mestre ZÉ SALVADOR.
Número de estrofes: 32
Tipo de estrofe: Sextilha (6 versos)
Estilo de rimas: XAXAXA
Métrica: Redondilha maior (7 sílabas poéticas)
Tema: História e Turismo
Ilustração da capa: Amanda Gomes
Publicado em folheto lançado pela CCHAT em 19/10/2024.
Para baixar gratuitamente o folheto, acesse o link