O CORDEL EM AÇÃO

OCUPANDO O SEU ESPAÇO

 

Criação Coletiva* 

 

Eu quero aprender cordel,

Porém sempre me embaraço.

Vou continuar tentando

Com a força do meu braço.

O cordel sigo rimando

– É difícil, mas eu faço.

 

É na Casa de Cultura

A oficina de cordel.

Corremos para aprender

Sobre essa arte do papel,

Da beleza e da paixão,

Tal pintura com pincel.

 

A filha do Alberto Torres,

Nossa querida Heloísa,

Deve estar muito orgulhosa,

Sorrindo qual Monalisa,

Sendo lembrada em projetos

Que esta Casa realiza.

 

É tão bom estar aqui,

Nosso tempo tem valor.

Transmite paz, alegria,

Pois fazemos com amor.

Mais cordel e mais poesia,

Seja este o nosso clamor!

 

Olha que lugar tranquilo!

Quanta calma ele nos traz.

Diante de tanta história,

Ele nos enche de paz.

Também com suas belezas,

Cordel é assim que se faz.

 

Abrimos o coração

Para fazer a oficina.

Mergulhar sem ter receio

N’água boa e cristalina.

E a começar uma estrofe

Sempre que a outra termina.

 

Poesia é alquimia

Que transmuta a emoção

De chumbo puro pra ouro,

A grande transformação

Que dissolve e coagula,

Muda o nosso coração.

 

Aqui nós somos poetas

Do verso livre que voa.

Soltando nossa emoção

Sai sempre uma coisa boa.

Para as normas do cordel

A rima jamais destoa.

 

Poetas de toda estirpe,

Sonhos que não se contêm,

Imaginamos bem longe,

Voamos como ninguém.

No cordel ganhamos asas

Pra voarmos muito além.

 

O primeiro desafio

Na escrita desse poema

É que ele faça sentido.

E não pode dar problema.

Por isso é tão importante

A boa escolha do tema.

 

O cordel se faz com regras

Tão bem feito que embriaga.

Nas rimas tem melodia

Um som gostoso que afaga.

Pra ser cordelista, a dica:

Siga em frente, viva a saga.

 

Se for contar uma história,

Deixando de lado a prosa,

O cordel tem a magia

Dessa escrita saborosa,

Com seus versos que costuram

O bordado de uma glosa.

 

O segundo desafio

É escrever sobre o assunto.

Tudo que faça sentido

Faz parte desse conjunto,

Como fazer sanduíche,

Com pão, queijinho e presunto.

 

Escrever um bom cordel

Pede pensar com clareza,

Assumir o compromisso

De poemas com destreza.

Só precisa ser astuto

Pra não perder a pureza.

 

Poderá ser uma estrofe

Que abrirá uma escotilha.

A imaginação viaja

E seguirá uma trilha,

Como linda bailarina

Que não tira a sapatilha.

 

O terceiro desafio

É fazer a revisão,

Conferindo a coerência

Entre palavra e ação,

Escolher as rimas certas

Pra passar forte emoção.

 

Inda que sem assistência

Enfrente o redemoinho.

Tudo acontece depressa,

Mas nunca se está sozinho.

Basta pensar com clareza,

Que o verso sai redondinho.

 

Nós vivemos no limite

Não se arrisca? Não petisca.

Pra viver essa aventura,

O pescador joga a isca.

Para acordar desse sonho,

Só a rima nos belisca.

 

Surge o quarto desafio,

Talvez em definitivo,

Testando sua harmonia

Num arranjo auditivo

Pra causar na multidão

Um impacto positivo.

 

A inspiração, ela foge

Como cavalo indomável.

Eu jogo esse meu bom laço,

Amanso deixando amável.

Galopo as minhas palavras,

Crio um cordel adorável.

 

Para esquentar o estudo

Veio um preto perfumado

Adoçar a inspiração:

Um cafezinho apressado.

O próximo gole é suave

– Eita café arretado!

 

Mas até aqui foi fácil.

Cordel, mais que poesia,

Tem o quinto desafio:

A métrica e melodia.

E tem gente que consegue,

Depende da mentoria.

 

Mas o nosso oficineiro,

Seja lá o que aconteça,

Quantos milhões de neurônios

Deve ter nessa cabeça?

Onde pluga um H.D.?

Nunca nos dirá. Esqueça!

 

Segue o cordel em ação,

Não termina o desafio.

O cordel ocupa o espaço

Tal qual as águas do rio,

Buscando uma nova força

Mesmo nos tempos de estio.

 

Nosso cordel é, portanto,

Indomável sendo manso.

Ele é generoso e vasto,

Criativo em seu remanso.

Por vezes até ingrato,

Não é adepto ao descanso.

 

Rima raios, tempestades,

Nossos anseios e desejos,

As ciladas, aventuras,

“Causos”, “migués” e traquejos.

O cordel em construção

Pede leveza e molejos.

 

Conhecemos a famosa,

Porém tão jovem, I.A.

Sabe escrever e contar.

É inteligência. Será?

No cordel ela não vinga.

Pois é fraca. Sai pra lá!

 

Acordem os escritores,

Pois não podemos deixar

Mentes artificiais

Tomarem nosso lugar.

Estes poemas sem alma

Não fazem rir nem chorar.

 

Pra oficina, um até breve,

E pro cordel um momento.

Entre os amigos de fé

Expomos o sentimento.

A boa rima se escreve

Se tiver conhecimento.

 

Aprendemos no final

Que o cordel não prende o verso,

Apenas dá cor e forma

Ao que se achava disperso,

Dá novo rumo à viagem

E nos abre um universo.

 

Cordel tem, sim, suas regras

Mas nunca terá limite.

Quando um novo tema surge,

Ele aceita o seu convite.

Se o cordel o desafia,

O poeta não se omite.

 

Não é nada estressante

Esse modo de carícia.

Tem início, meio e fim,

Mas também tem a malícia.

Não queremos ir embora

– O cordel é uma delícia!

 

FIM

 

 

* Criação Coletiva.

   Autores:

   Cleidiane Montel

   Elizabete Silva

   Rafaella Fragoso

   Valéria Souza

   William Mendonça

 

Itaboraí-RJ

Agosto de 2024

 

Feito na 1ª Oficina de Cordel

da Casa de Cultura Heloísa Alberto Torres.

 

Orientação e revisão técnica do mestre ZÉ SALVADOR.

 

Número de estrofes: 32
Tipo de estrofe: Sextilha (6 versos)
Estilo de rimas: XAXAXA
Métrica: Redondilha maior (7 sílabas poéticas)
Tema: Literatura de Cordel

Ilustração da capa: Amanda Gomes
 

Publicado em folheto lançado pela CCHAT em 19/10/2024.

 

Para baixar gratuitamente o folheto, acesse o link

O CORDEL EM AÇÃO OCUPANDO O SEU ESPAÇO