MEU TETRAVÔ E A BOTIJA!!! Nova Versão.
MEU TETRAVÔ E A BOTIJA!!!
A alguém que economiza?
Eu apoio, com certeza!
Porém, repudio aquele
Que age com avareza,
O causo que vou narrar
Serve pra você pensar
Antes de agir como tal,
Pra não arranjar quizília
No convívio da família
E no Plano Celestial.
Estragar tudo que ganha?
Não é legal, eu sei bem,
Mas, agir com avareza,
Não vai ser bom pra ninguém!
Quem age em sã consciência
Demonstra ter competência
E que é bem inteligente!
Sagaz, esperto, bacana,
Jamais vai ser muquirana
Igual esse meu parente.
Falo do meu tetravô
Que viveu antigamente,
Avô do meu bisavô
Muquirana e inconsequente
Que nunca fez usufruto
Nem mesmo qualquer desfruto
Esse velho fazendeiro
De tudo que trabalhava
Nem um só tostão gastava
Só pra juntar o dinheiro.
Pra mim, ele não passava,
De um ser humano fraco,
Roupas boas, não usava,
A camisa era de saco,
A calça era remendada
Trabalhava com a enxada
Dia e noite, o tempo inteiro,
Sem luxar, sem passar bem,
Quem pensa assim só convém.
Bens, e lucro financeiro.
Além de ser muquirana,
Era sovina e mesquinho,
Só pensava em sua grana
Vivia quase sozinho,
De ninguém se aproximava,
De todos desconfiava,
Era um perfeito egoísta!
Pois esse tal fazendeiro
Só gado, terra e dinheiro,
Era o que lhe enchia a vista.
Guardou moedas de ouro
Maciço e bem reluzente
E todo aquele tesouro
Desse meu velho parente
Pra não deixar ao relento
Esse sujeito avarento
Que a ninguém ajudava
Vendia suas boiadas
Depois saia as caladas
E todo dinheiro enterrava.
A velha pedia um pouco
Do dinheiro pra gastar
Respondia, eu não sou louco,
Tenho que economizar
Você comigo se uma
Para aumentar a fortuna
Economize também!
Pois quem não economiza
Quem sabe um dia precisa
E na hora que quer, não tem.
E assim nessa avareza
Não lhe soltava uma prata
O cardápio em sua mesa
Era cuscuz com batata
Às vezes, uma coalhada,
Feijão com rolinha assada
Que caçou com a baladeira,
Porque carne, não comprava,
Nem para o açougue olhava
Se acaso fosse na feira.
Nem mesmo uma criação
Daquelas do seu terreiro
Galinha, peru, capão,
Ovelha, cabra, carneiro,
Dali não comia nada,
Nem sequer uma buchada
Uma vez a cada ano!
Era feirão com pimenta
Uma farofa ou polenta
Chega dava desengano.
Seu sistema financeiro!
Era torpe, cheio de falha,
Para que guardar dinheiro
Se não tem bolso em mortalha?
A frase é real e certa,
Pra morte não tem oferta
Na hora em que chegar
E ela vem qualquer dia!
E toda essa economia
Só irá faze-lo penar.
Mas, ninguém é imortal,
Veja o que aconteceu!
Certo dia passou mal
“Bateu as botas” morreu!
Tanto que juntou em vida
Mas, a luta foi perdida,
Pois daqui nada levou!
Nem deixou pra sua gente,
Esposa, filho, parente,
Nada da fortuna herdou.
Depois que se deu a morte
Do fazendeiro citado
Assim do lado do norte
Da fazenda, em um cercado,
Nuns lajedos esquisitos
Começou se ouvir uns gritos
E um gemido bem profundo,
Pedindo paz e clemência,
Dando total aparência
Que era coisa do outro mundo!
O tempo foi se passando,
E ali não mudava em nada
O mal assombro aumentando
E aquela alma penada
Com seus lamentos tristonhos
Um dia invadiu os sonhos
De João de Mané Dendê
E com a voz trémula e rija
Desse: eu tenho uma botija,
Enterrada pra você.
Perto da pedra do tanque
Lá na curva da estrada,
Você vá lá e arranque,
Numa noite enluarada,
Tá bem no pé do rochedo,
Mas, se você for com medo
Poderá se atrapalhar,
Leve cruz e água benta!
Pois, dizem que o diabo atenta,
E assim não vai atentar.
Fez tudo bem direitinho
Como manda o figurino,
E o fazendeiro mesquinho
Enfim, mudou seu destino,
Depois que dali saiu
João todo ouro investiu
Na poupança, e se deu bem!
Com essa pomposa herança
Hoje vive em vida mansa
Sem dever nada a ninguém.
Por isso, não vale a pena,
Ser mesquinho e avarento,
Ao próprio espírito condena
A vagar em sofrimento,
Vai ficar perambulando
No purgatório penando,
Enquanto seu corpo jaz
Numa fria sepultura,
Relegado a desventura
Até encontrar a paz.
Carlos Aires
20/07/2024