O TRUBAS
O TRUBAS
Era um sujeito indecente
Retrato da abestação
Desvaloroso, indiligente
Mentiroso e sem noção
Casa pra morar não tinha
Mas casou com a Marizinha
Mocinha boa do sertão.
Nunca teve esse infeliz
Vontade de trabalhar
Levava o tempo em mentir
Contar vantagem e enganar
Vender vaca sem ter gado
E terra sem ter herdado
Um canto pra se enterrar!
A moça, trabalhadeira
Sofrida, mas muito honrada
Levava uma vida ordeira
Por sua família, era amada:
E eles lhe deram uma casinha
Que trazia arrumadinha
Limpinha e organizada.
Seus filhos, os seus amores!
Asseada de fazer gosto
Cuidava seus genitores
Com amor! E aquele encosto
Pra ajudar, não tinha trato!
Destrato, fome e maltrato
Palavrão, rela e desgosto
Era o que dava pra ela!
E o Universo observando…
De dar o livramento dela
O Tempo se encarregando
Guardando a oportunidade
Pra dar, com efetividade
O cachaço, o pau e a vela.
Uma madrugada, chegou
O Trubas de uma noitada
Pra cozinha se passou.
Marizinha já deitada
Acordou foi pelo mote:
- Mamãe, o papai no pote
Está dando uma mijada!
O pote d’água limpinha
Que ela de longe trouxera
Com a ajuda de sua turminha...
Pois, acredite, o “misera”
Que a buscar água se negou
Tirou-lhe a tampa e mijou...
Marize virou uma fera!
Pegou uma lasca de lenha
De encostado do fogão
Desceu-lhe o pau na moleira
Botou o Trubas no chão
Caiu, ficou se batendo
E o pau de lenha comendo
E nesse diapasão
Deu-lhe mais umas quatro ou nove
Parou os filhos dizendo:
Mamãe, ele já tá mole…
Se a mamãe seguir batendo
Vamo enterrar no quintal
Que com esses carin de pau,
Num tá mais nem se mexendo!
O Trubas, mole de peia
De fato, nem se bulia.
Pensando: “a coisa tá feia!”
Sem saber o que fazia
Marize os filhos e uns trapos
Juntou tudo e fez fiapo
Pra escapar dessa agonia.
O Trubas, todo quebrado
Dormiu a noite inteirinha
Com a coça, e embriagado
Acordou de manhãzinha
Mas foi procurar por ela
Lá na casa do pai dela
Pra aperrear a pobrezinha.
Botou a peixeira no dente
Foi procurar confusão
Foi se botar a valente
Encontrou foi com o irmão
Dela, no curral do gado
Que, dos fatos já informado
Deu-lhe uns panos de facão…
Já na terceira lapada
Debandou foi ligeirinho
Pegou seu rumo na estrada
Achou de casa o caminho
Sem GPS, acertou
Nunca mais ali passou
Deu paz à mãe e aos filhinhos.
Marizinha se espertou
Hoje a vida está mudada
E nunca mais aceitou
Por Trubas ser maltratada
E o Trubas segue este mote:
- Nunca mais vou querer dar
Mijada dentro de um pote!
Lucas Carneiro
22 mar. 2022
16h47