EU SOU A MEMÓRIA VIVA DAS ENTRANHAS DO SERTÃO!!!

EU SOU A MEMÓRIA VIVA

DAS ENTRANHAS DO SERTÃO!!!

Sou um rude campesino

Inculto, tosco, grosseiro,

Sou igual a catingueira,

Mandacaru e facheiro,

A umburana, a jurema,

O preá, a seriema,

A raposa e o furão

Ser campônio me cativa!

Pois sou a memória viva

Das entranhas do sertão.

Sou igual a aroeira

Que qualquer golpe suporta,

Onde o mais forte machado

Entorta o gume e não corta,

Sou cipó unha-de-gato

Sou o vaqueiro no mato

Montado em seu alazão

Na forma mais primitiva,

Pois sou a memória viva

Das entranhas do sertão.

Me assemelho a macambira

Ao caroá, ao icó,

Sou forte qual juazeiro

Duro como o mororó,

Sou miolo de braúna,

Sou o grito da graúna,

O saltitar do cancão,

O canto da patativa,

Pois sou a memória viva

Das entranhas do sertão.

Eu, represento as quebradas,

Os vales, as serranias,

As encostas, as baixadas,

As secas, as invernias,

O casebre e a palhoça,

O trabalhador da roça

Que planta milho e feijão,

Batata, fava, maniva,

Pois sou a memória viva

Das entranhas do sertão.

Sou a cacimba sem água

Bem como o rio e o barreiro,

Sou a polpa retirada

Da batata de umbuzeiro

A massa de jatobá,

O mel da arapuá,

O tatu, que cava o chão,

De maneira objetiva

Eu sou a memória viva

Das entranhas do sertão.

Compartilho o sofrimento

Do sertanejo sofrido

Que mantém a fé em Deus

E por Ele é protegido,

Passa sede, passa fome,

Mas, a cada vez que come

Agradece em oração

E pela fé que o motiva,

Por ser a memória viva

Das entranhas do sertão.

De ser roceiro e campestre,

Não quero mudar em nada,

Gosto de levantar cedo

As quatro da madrugada

Quando ainda está escuro

Pra respirar o ar puro

Sem conter poluição,

Disso aí ninguém me priva

Pois sou a memória viva

Das entranhas do sertão.

Aqui termino o relato

Demonstrando quem sou eu

Estou muito satisfeito

Com o viver que Deus me deu

Adoro essa vida agreste

E mesmo que alguém conteste

Não mudo de opinião

Nem vou ficar à deriva

Pois sou a memória viva

Das entranhas do sertão.

Carlos Aires

Carpina PE.

29/09/2023