MORTE E VIDA SEVERINA "Da obra de João Cabral de Melo Neto".
Munido de carabina
Vida e morte Severina
Vinda de um seco sertão
Esperança sem medida
Gota de fé combalida
Num caminho sem direção
È assim o seu destino
nesse solo nordestino
onde a vida foi cruel
Mas cantava o repentista
Escrevia o cordelista
Belos versos de cordel
Juliano apressado
Caminhava agoniado
Dona Vitória a dizer
Por favor mantenha a calma
Se não morre inté a alma
Sem poder sobreviver
Os meninos e baleia
Achava a vida tão feia
Depois que o lôro partiu
A fome lançou a sorte
Trouxe a vida quem na morte
Ali mesmo sucumbiu
Terra quente sem ver chuva
Nem pegadas de saúva
Passeando pelo chão
Triste vida severina
Sem orvalho nem neblina
Pra molhar nosso sertão
Melhor seria se a morte
Com sua foice de corte
Viesse a todos buscar
Acabaria o sofrimento
Fome frio morte tormento
Logo iria se acabar.
Mas pra cumprir essa sina
VIDA E MORTE SEVERINA
Foi uma realidade
Em cova rasa enterrava
Muita vida se acabava
Num sertão da crueldade
João Cabral escreveu
Depois que tudo se deu
Com a família tão sofrida
Cada passo uma esperança
Ou um fim sem ver mudança
Tudo se perdeu na lida