COISAS DE POUCO VALOR - Gracejo
I
Um paninho de babador
Um cristão excomungado
Fundo de caça rasgado
Pobre velho sofredor.
II
Tempinho que me sobrou
Chameguinho de fim de festa
Um cabra ruim que num presta
Cascão, catôta, cocô.
III
Coberta de toda cor
Remendo em fundo de saco
Bolacha quebrada é caco
Um besta que nem lolô.
IV
Matuto enganar doutor
Catinga em feira de peixe
Um sai pra lá, deixe, deixe!
Galo velho cantador.
V
Desincasqueto de dor
De espinhéla caída
Mocréia no fim da vida
Um olho de couve-flor.
VI
Menino que se encantou
Estória de Pai Tomás
Afrouxa a parte de trás
Ficasse de toda cor.
VII
Cantor que num é cantor
Uma cantada mal dada
Uma pisa encomendada
Conversa de camelô.
VIII
Um bêbado aboiador
Um vinho azedo quentão
O falhar do foguetão
Sapato sem fiador.
IX
Um papo borocoxô
Um falarisso da moléstia
Um franzimento de testa
Um carro véi sem motor.
X
Palestra que começou
Pelejou e nada disse
Ficou no disse me disse
Nada disse e se acabou.
XI
Perdido que num se achou
Alguma falsa modestia
Dismazia de inspavento
Pinto nuelo goguento
Confundir quina com aresta.
XII
Doido que se manifesta
Pato solto na carreira
Um cutucado de beira
Uma comida indigesta.
XIII
Uma mulher desonesta
Um menino catarrento
Cachorro velho sarnento
O que é bom e num presta.
XIV
Um gago numa palestra
Três sementes de maxixe
Três coisas que eu nunca disse
Três sabugos numa cesta.
XV
Conversa de gente besta
Orelha de porco espinho
Tapa dada no fucinho
Troca de sábado por sexta.
XVI
Bola quando não se encesta
Tiro quando é farrapado
Um ôvo dezunerado
É ôvo gôro e não presta.
XVII
Se você franziu a testa
Não entendeu meu rimado
O ôvo izunerado
Vale igual ao ôvo gôro
Só pra zê desaforo
Com versos desmantelados.
Thiago Alves