O FEITIÇO DA NINFA

Sonhei que estava voando

Nas asas do firmamento

Carregado pelo vento

Num paraíso encantado.

Fiquei hipnotizado

Com tudo aquilo que eu via

Num calmo lago corria

Um barco bem requintado.

Neste barco ornamentado

Com uma musa na proa

O brilho em sua coroa

Resplandecia em dourado.

Por volta da hora noa

Me senti petrificado

Eu fiquei enfeitiçado

Pela ninfa da lagoa.

Ouvi o som de trombetas

Vindo debaixo do chão

E o cabelo de Sansão

Servindo como caneta.

Um padre numa roleta

Uma freira com piti

Santo Antonio abuletado

Num casco de jabuti.

O gemer da juriti

Me deixou arrepiado

Travessei o mar a nado

Pra poder chegar aqui.

Imobilizado ali

Eu quis fazer uma loa

Eu fiquei enfeitiçado

Pela ninfa da lagoa.

Eu cheguei pra me banhar

Por volta da sexta hora

Vi o lago jogar fora

Suas ondas sem cessar.

O mar a arremessar

O brilho cego da areia

No olhar de uma sereia

Que se punha a flutuar.

A luar a pestenejar

Senti as gotas da chuva

Molhado da água turva

Comecei imaginar.

Se a lua no seu brilhar

Me levasse na magia

Naquela pele macia

Como uva em degustar.

Chegando como quem voa

Montado em cavalo alado

Eu fiquei enfeitiçado

Pela ninfa da lagoa.

Desapareceu o dia

A noite ficava forte

Numa escuridão de porte

A natureza dormia.

A voz do meu coração

Se escutava de longe

Mantendo uma fé de monge

Recitei minha oração.

Não encontrei mais ruído

Andei como quem desfila

Entrei na casa da vila

Que eu tinha construído.

Encontrei minha leoa

Fiquei juntinho ao seu lado

Em fiquei enfeitiçado

Pela ninfa da lagoa.

Me vi na praia deserta

Naquela noite serena

Quando vi minha verbena

Que me aguardava incerta.

Quis chorar de alegria

Quando me viu vir do norte

Correu, me abraçou forte

Me deixou a revelia.

Apertei-a junto ao peito

Minha fruta de parreira

Ultrapassei a fronteira

Que o tempo havia feito.

Pensei que estivesse atoa

Mas, havia me encontrado

Eu fiquei enfeitiçado

Pela ninfa da lagoa.

Caminhamos de mãos dadas

Pelo tapete de areia

Como aranhas na teia

Num patamar sem pecados.

O céu estava estrelado

Refletindo a luz na praia

As ondas jogando a saia

Apresentava o babado.

O horizonte se abria

levantando a bruma densa

Numa vastidão imensa

Senti sua mão macia.

Como a massa de uma broa

Sem querer eu fui tomado

Eu fiquei enfeitiçado

Pela ninfa da lagoa.

Thiago Alves

A Arte de Thiago Alves
Enviado por A Arte de Thiago Alves em 08/05/2023
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