CORDEL 66
Eu não vou dizer nada para ninguém
Sobre esse mundo cheio de ilusão
Porque se eu dizer alguma coisa
Todos vão me deixarem na tristeza
Esperando a solidão me sucumbir
Com lágrimas pelo fantasmagórico.
Eu bem sei quem eu sou de verdade
Na minha singularidade plural da insanidade
Mas, eu não me importa com a minha condição
Porque eu faço tudo com muita loucura
Pois eu sou o dono da minha própria razão
Mesmo se eu não tiver a tocante lucidez.
Penso na vida onírica concomitantemente
E nos desenhos de giz
E nos homens que colocavam gravatas
E nas mulheres de saia de sino em quadro-negro
Enquanto eu gritava: Pega o ladra!
Quem sabe não foi um aviso escrito.
Longe de eu falar o que penso
Pois sou muito surreal para não dizer sui generis
Para tal realidade que sobreveio à mim
Por isso eu vivo rindo da aparente desgraça
Fazendo sempre graça como palhaço
Para depois saber qual é a graça.
Se eu sou aloprado ou um doidivanas
Posso abrir minha boca e falar
Dizer quem é quem e me enturmar
Nesse mundo ilusório das palavras
Mescladas de sons e mascaras pelo tempo
Para o espetáculo só começa na hora do discurso.
Sou lúdico e telúrico
Ingênuo eu posso até de me iludir
Mas, também com os remédios que tomo
O que é que eu, não posso adivinhar sonhando
Penso, reflito e me calo
Pois sigo o caminho óctuplo que é-me maravilhoso.
Sou cristão, de Allá
De Jeová e Maomé
Espírita convicto de fé
Umbandista desde sempre por Oxalá
Jesus na minha frente talvez eu creia
E Buda na minha mente por não é Deus.
Sou singular nesse contexto já contextualizado
Plural por convicção por há razões
Apaixonante por eu em perfeita condição
Por esse motivo aparente tenho a vida
Como um dos voares intrínsecos
Onde eu sei o que é alado de lado do vento.
Fui, sou, sendo eu mesmo nesse tempo
Escrevo compulsivamente as idiossincrasias
Não me importo com incongruências
Se me acham confuso eu tolero verbalizar
E na problematizo o que é maluco beleza
No mais tudo é besteira e eu vou expressando.
Se eu silenciar é por já sei da restinga
Do que é feito a lamparina
Que no fundo não diz nada e só ascende
Mas gostam de fazer zueira em chama
Para esse mundo encantado e luzente
De palhaços no mais tudo é besteirol reluzente.
Se o cordel tá duvidoso na meta linguagem se joguem
Ou confuso delirante para uns da norma culta, revelem
Suponho a subjetividade sem subjugar
Nesse texto o que interprete o que escrevi
Pois o homem que conta historia minhas
Não mente na arguição do meu dizer.
Eu não quero me prolongar
Porque me enfado rapidamente e sorrio
Como se fosse um fado depauperado
Então, eu dou é risada
E não escrevo mais absolutamente nada
Nenhuma linha que passa ser talvez engraçada.
Ah, se eu falasse o que sei!
Agora digo o que não sei
Porque eu sou feliz
Mesmo com minhas tessituras
Por entre as pernas gozando
Sal as idiossincrasias da vida.
Fandango é meu nome
Que venho de muito longe
Se eu nasce de uma virgem
Fui parido num dia
Onde o tango tocava
Junto com o bolero de Ravel.