Festa no cemitério

Festa no cemitério

Cordel feito como interação ao poema do mesmo título, do poeta pernambucano Moacir Rodrigues.

( caso você esteja com o 📱, coloquei-o na vertical)

Pra não ser assaltado, entrei no cemitério,

Numa tétrica e fria noite de lua nova,

Ao pular sobre o muro, cai numa cova

Aberta, veja, então, que grande despautério.

Naquele tão macabro e esquisito ascetério,

As caveiras faziam sensual festança,

Mas faltavam bebidas e sem comilança,

Gerava-se ali um vil descontentamento,

Daquele inusitado e fétido momento,

Nascia acirradíssima desconfiança.

O assunto ia ficando cada vez mais sério.

Ossos secos batendo em outros secos ossos,

Numa dança de finos ossos contra grossos,

Naquele tão disforme e grande necrotério.

Eu que estava escondido em cova de mistério,

Rilhando dentes contra dentes só de medo,

Podia ser descoberto e ser posto em degredo,

Arrepiei-me ao ver a caveira dentuça,

Rodopiando e rindo com escaramuça,

Em contradança co'outra que faltava um dedo.

Algumas reclamavam do "vei" Zé Firmino,

Que zabumbava por demais fora do tom

Tinha caveiras machos usando batom,

E outros requebrando-se e falando fino.

Vi esqueletos de homem, mulher e menino,

No entanto, ali, ninguém respeitava ninguém,

Alguém pôs a mão boba nas 'partes' d'alguém,

Dentro da cova, eu vi o pau comeu dobrado!

Melhor me teria sido na rua assaltando,

Que estar no cemitério de todos refém.

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Do versátil repentista Poeta Jota Garcia, recebi esses versos ainda quentinhos, saídos da ⚰ cova agora.

Ali só estavam os destroços

Ossos, ossos e mais ossos.

Algumas almas, um tanto festeiras, Ainda estavam entre as caveiras. Atraídas pelo alvoroço

Do tremendo angu sem caroço,

Deram um jeito de ficar junto.

Nesta festa de defunto,

Havia também um moço,

Que com medo fugiu na carreira.

Nem quis esperar a saideira.