Mundo cheio de esperteza
Tava eu quieto num canto
Fazendo apreciação
Buscando inspiração
Para evitar meu pranto
Quase até que me espanto
Meu sangue ferveu em mim
Inté pensei ser o fim
Da vida que eu levava
Feito bomba que papocava
Onde eu era o estopim
Eu já nasci quase morto
Mas vivi de teimosia
Quando entrei na sacristia
O padre me olhou torto
Com seu jeito absorto
De cabra investigativo
Vi seu gesto negativo
Quando ele se benzeu
Olhando forte pra eu
Pra saber se eu tava vivo
Começou a ladainha
Seguindo o itinerário
Eu no confessionário
Contava uma historinha
O pároco viu que eu tinha
Jeito e muita habilidade
Apesar da pouca idade
Ele nunca viu aquilo
Me chamando de João grilo
Com um olhar de falsidade
Eu disse seu padre escute
Quem é João Grilo sem Chicó
Eles nunca ficaram só
Um é o passo o outro o chute
Um linguiça outro chucrute
Pois viviam lado a lado
Eu sou um pobre coitado
Que já não tem serventia
Veja que minha maior valia
É ser por ti abençoado
Ele disse Coroinha
Arrepare olhe e veja
Ao redor dessa igreja
Pela experiencia minha
Recolherá nota e moedinha
Que faz parte do ofertório
Se não tu vai pro purgatório
E eu já despacho tua alma
Eu disse Seu Padre Calma
Mude esse Bolodório
Quanto eu levo nessa história
Perguntei interessado
Ele me olhou de lado
E disse tem dois por cento
Eu respondi não aguento
Ganhar pouco trabalhando
Prefiro viver enrolando
A vida velha canalha
Pois sou o fio da navalha
Que ralha e segue cortando
Me ofereça então
Por sua santa bondade
50 por cento é caridade
Pra esse fiel cristão
Me adiante um tostão
Pra firmar a dianteira
Mamãe tá lá na porteira
Esperando algum trocado
Ninguém nos vende fiado
No buteco e nem na feira
O Padre lhe perguntou
E quando irá me pagar
É assim que eu coletar
Conforme o senhor falou
E até se empolgou
Com as doações dos fieís
Vamos ganhar mais de mil réis
Quando a igreja tiver cheia
E pra aumentar a ceia
Vendo a eles meus cordéis
Em construção...