A cisterna do João fumaça.

Doutor eu sou lá do mato

Morador de uma grota

Onde tem uma linda serra

De onde uma água brota

Minha casa é de sapê

Se quiser pode ir lá vê

Onde minhas galinhas bota

Na frente lá do meu rancho

Tem um pé de umbuzeiro

Um cachorro bom caçador

E um galo índio no terreiro

Um tanque pra lavar prato

Um gatim pra pegar rato

Pense num bicho ligeiro

Certo dia lá em casa

Bateu palma no eitão

Sair para ver quem era

Deparei com um cidadão

Perguntou a minha Graça

Respondi,sou João Fumaça

Conhecido na região

Tirou foto de minha casa

Com uma máquina moderna

Sentou no meu banco velho

Descansou e cruzou a perna

Esticou o dedo com junta

Mim fez uma curta pergunta

O senhor já tem cisterna?

Pensei! minha Santa Maria

Nossa Senhora do Desterro

Meu sonho é ter uma dessa

Deixa eu assinar esse termo

Aqui nessa terra sofrida

Ela é assim conhecida

Como a caixa do GOVERNO

Fez mil e uma pergunta

Se minha mulher era branca

Se na casa tinha banheiro

Se a telha era cerâmica

Passou trena em todo lado

Deu 200 metros quadrados

Porque a bicha é boa de anca

Perguntou se eu tinha zAP

Respondi,claro patrão

Esse bicho é importante

Igual carne no feijão

Esse bicho nos ensina

Qual o preço da gasolina

E o resultado da eleição

Depois me chamou num curso

Longe de onde morava

Passei a perna na jumenta

Logo cedo lá estava

Pensa num curso bacana

Se fosse pra durar um semana

Por mim eu lá ficava

Abri um buraco no chão

Parecendo uma sepultura

Gastei quase um enxadão

Queimei um pouco de gordura

Mas era um emprendimento

Importante para meu sustento

Que fiz com desenvoltura

Ela foi criando forma

E eu olhando encantado

Infeitou a minha casa

Foi um sonho realizado

Branquinha igual uma neve

Esperando que em breve

Caia chuva no telhado

Bem no final de outubro

A cigarra abriu o bico

Eu pensei e logo logo

Mas será o Benedito?

Começou a invernada

E eu com água armazenada

Eu vendo nem acredito

Ficou só pra os animais

Aquela água amarelada

Hoje eu tenho mais saúde

Tomando uma água tratada

Acabou a dor de barriga

Causada pela lumbriga

Que tanto me castigava

Meu sítio valorizou

Valendo quase um trilhão

Mas é claro que não vendo

Ele é minha diversão

Hoje aqui na minha terra

A bendita da cisterna

É a rainha do Sertão

Ivan Sousa
Enviado por Ivan Sousa em 28/10/2022
Reeditado em 13/11/2022
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