BOLSA E BOLHAS
BOLSA E BOLHAS
A bolsa de valores é da lama,
Enquanto o pasto é do urubu,
Mas sempre terá quem reclama,
Se não há porco e nem catitu,
Que fuçam nas roças de rama,
Ou comem sem pena as canas,
Que eu plantei lá pelo sul.
Mas, e agora! Chegou a hora!
De ter o acerto com o meeiro,
Mas não vigora, e fui embora,
Pois o trem passou em janeiro,
Com uma roda do lado de fora,
Pela estrada que já não atola,
Marcando minha rota primeiro.
Formado após ver duas capitais,
E tendo vivido perto da praia,
Não vi o seu gado ou os gerais,
Pois as suas minas vestem saia,
E as cangalhas são dos animais,
Como os políticos são bestiais,
E não entendem o mundo de Gaia.
Esses dilemas foram no palácio,
Onde eu dormi, mas não acordei,
Como as gemas de ouro do Lácio,
Que esqueci pelas Romas do rei,
E os tesouros serão de Horácio,
Pois a pobreza já não disfarço,
Só dando fome, e nada mais sei.
Então, chega o dia da escolha,
De um lado estando a esperança,
Ao poder pular galho de folha,
Que já não manifesta lembrança,
Se beberam um vinho de rolha,
Vivendo em castelos e bolhas,
Enquanto cobravam a fiança.
Só assim é que o povo acorda,
E percebe o laço e o cabresto,
E descobre a dor de uma corda,
Posta bem antes do rei João VI,
Que nos deixa sempre na borda,
Ou sofrendo nas mãos da horda,
Que governa sem jeito honesto.
São cães parecidos com Cérbero,
São cruéis mercenários do crime,
Vivem a nos condenar do sinédrio,
Mesmo quando o exemplo me exime,
E agora, só tenho a flor e o verbo,
Com a estrela que bordo em caderno,
Demonstrando ser fã do meu time.