A viúva no forró
Tereza da Catanduva
Uma senhora já viúva
Magrela egual esqueleto
Gostava de usar tamanco
Não tinha um vestido branco
Seu traje era sempre o preto
Vivia com um salário
No pescoço um rosário
E um remendo na saía
Comprava fumo de braça
Um cachimbo pra fumaça
Ou um cigarro de palha
Na casa onde morava
Com ela ali habitava
Dois filhos sem serventia
Viciados em novelas
Era da cama pra panela
Rotina de todo dia
A rotina era essa
Vivendo ali sem pressa
Nunca procurou emprego
Com o espinhaço na rede
Botando o pé na parede
Sempre no maior sossego
Em forró e cantoria
Tereza nunca perdia
Era a primeira a chegar
Do xaxado ao baião
Poeira saia do chão
Era pó pra todo lugar
Em em forró lá em Dite
Tereza recebeu o convite
Com laço todo grafino
Pra sem falta comparecer
Logo assim que escurecer
E também levar os meninos
Logo esse dia chegou
Tereza se arrumou
No cabelo fez um cacho
Botou uma saia rodada
Pra vê a banda afamada
De Tonhão dos oito baixos
Lá pras tantas da noite
Um trovão com um assoite
Clareou céu como uma vela
A terra então se abalou
Um raio no transformador
Derrobou a tal da canela
Foi aquela gritaria
Nem uma vela existia
Naquele exato momento
Foi quanto Tião de Tereza
Usado de sua esperteza
Teve logo um pensamento
Aqui no meio da festa
Nesse escuro da mulesta
Que está igual um breu
Vou agarrar com capricho
Uma mulher e fazer o serviço
Ninguém vai saber se foi eu
Dando uma de exibido
Achou um cabelo comprido
E sem nenhuma gentileza
Deu um cheiro no cangote
Puxou pra baixo o saiote
E jogou debaixo da mesa
Depois do serviço pronto
Ele vesgo e meio tonto
E com paciência de Jó
Pegou a saia da moça
Deu setenta nó de rosca
Ruim de desamarrar que só
Esse trabalho danado
Tinha um significado
Que você nem acredita
Quando arrumar a canela
Indentificar a donzela
Se era feia ou bonita
Ligaram no zero oitocentos
Falaram que no evento
O escuro era profundo
Logo então uma viatura
Com pressa e sem frescura
Resolveu tudo num segundo
Foi quando Tião ativou
Seu modo de caçador
Procurando em disparada
Pela casa em todo lugar
Mas nada de encontrar
Sua incógnita namorada
Muito triste e agoniado
Ele encontrou com Ricardo
Que era seu irmão caçula
Já são quase cinco horas
Chame lá mãe pra ir embora
Estou cansado igual uma mula
Foi quando disse Ricardo
Com um olhar desesperado
Numa tristeza de dá dó
Um sujeito sem futuro
Agarrou mãe no escuro
E encheu a saia de nó
Já desamarrei quarenta
Ainda tem uns cinquenta
Nunca vi tanta maldade
Só uma coisa não entendi
A véia não pára de rir
O rosto é só felicidade.