O Homem do manto Azul
1897 – ano que marca o fim da guerra de Canudos – 125 anos depois.
O manto azul cobria o corpo
Nas vestes do pregador
Até hoje é estudado
Por aluno e professor
Foi andarilho dos sertões
Palavra de paz, fé e amor
Antônio Vicente Mendes Maciel
Assim foi ele batizado
13 de março de 1830
A esse mundo foi anunciado
O nascimento do menino
Que até então é lembrado
Quem nasce para servir
Servirá sem ser servido
Nascerá com uma missão
Sem trair pra ser traído
Sem faltar com a verdade
Por muitos será iludido
Qual o mal que ele fez
Pergunta o povo sertanejo
Construindo cemitérios
Na história isso eu vejo
Muitas igrejas erguidas
Pois esse era o seu desejo
Foram quatro expedições
Pra acabar com a missão
De ANTÔNIO CONSELHEIRO
O BEATO DO SERTÃO
O Exército Brasileiro
Desonrou nossa nação
A Republica desastrosa
Praticando a tirania
Eram inimigos reais
Quem essa tese combatia
Até hoje se encobrem
Na imperante covardia
CANUDOS não se rendeu
E nunca se renderá
Pois existe a história
E o mundo inteiro dirá
Resistiram até a morte
E morreram ao Deus dará
Sangue puro brasileiro
Diminuindo nossa nação
Quantos bravos poderiam
Ter escrito um novo sertão
Mas antes veio a covardia
Plantando corpos no chão
Chora rio VAZA BARRIS
COCOROBÓ traz sua dor
Água e terra avermelhada
Chão com marcas do opressor
Medalhas para quem mata
Diplomas pro vil matador
Mas quem sucumbiu por terra
Morreu sem ter tido a sorte
De continuar uma geração
Pois foram de encontro a morte
Provou que o Sertanejo será
ACIMA DE TUDO UM FORTE
A guerra irresponsável
A matança desordeira
O ronco ainda se ouve
No rajar da MATADEIRA
Crueldade e desonra
Pra essa nação Brasileira
Trajetória de pobre gente
Em busca de paz e luz
Onde corria RIO DE LEITE
E RIBANCEIRA DE CUSCUZ
Para matar todas as fomes
Desses filhos de Jesus
É A GUERRA DO FIM DO MUNDO
SERTÕES QUE EUCLIDES ESCREVEU
Qual dos dois tem mais sentido
Pelo que se sucedeu,
A quem cobrar o genocídio
Do massacre que se deu?
O TENENTE PIRES FERREIRA
Na primeira expedição
Comandando sua tropa
Sem saber a direção
Será que ele aprovava
O motivo daquela ação?
O Major FEBRONIO DE BRITO
A segunda então comandava
Mas sofreu uma grande baixa
E por isso não esperava
Voltou triste e o sertanejo
Mais uma então derrotava
La vem CORONEL MOREIRA CESAR
Para a terceira expedição
O tal do CORTA CABEÇA
Tombou morto nesse chão
Os CONSELHEIRISTAS eram
Os heróis neste sertão
O GENERAL ARTHUR OSCAR DE ANDRADE
Foi este o ultimo encarregado
De comandar a quarta expedição
Aceitou a missão de bom grado
Dessa vez era pra dizimar
Tudo e todos no povoado
Acabar com os REVOLTOSOS
Pra honrar o alto escalão
Que fora desmoralizado
Na aridez de um sertão
Por quem só tinha habilidade
Com foice, porrete e facão
Foi em 5 de outubro
Que a última batalha se deu
Em 1897
O céu do sertão escureceu
O DONO DO MANTO AZUL
E o seu povo pereceu
A DEGOLA foi crucial
Pra homem mulher e criança
O ódio estampado no rosto
Do algoz que logo avança
Recebeu ordem pra matar
Tirando de todos a esperança
A vergonha se espalha
E com outra não se assemelha
Crueldade igual aquela
Não existe igual parelha
A DEGOLA ali praticada
Era chamada “GRAVATA VERMELHA”
Devolvam seus coronéis
Insanos destruidores
Covardes e assassinos
Que não medindo pudores
Foram sim grandes culpados
Obedecendo os maus feitores
O Triste caminho da Guerra
Cenários tristes de horrores
Onde estão as Leis fundadas
Que protegem os maus feitores
Canhões contra os facões
Perseguições mortes e dores
Foi na Vila de Uauá
Mês de novembro o primeiro conflito
Era 1896
Por onde seguiu o povo aflito
Acompanhando o Conselheiro
A rezaria era o hino e o grito
Misérias em vidas traçadas
Peregrinações de incertezas
Sem pratos colheres e pão
Apenas as chamas acesas
De uma fé inesgotável
E dos maldosos, as suas proezas
BELO MONTE foi vitorioso
Se contar pela quantidade
De soldados que foram combater
Essa é a realidade
CANUDOS surpreendeu
Com luta e capacidade
Foram 10 mil homens ao todo
Sob ordens de 2 Generais
Cercaram e dizimaram
Ferozes feito animais
Tombava então BELO MONTE
O Bom Conselheiro não mais
VIVA O POVO DE CANUDOS
VIVA OS NOSSOS ANCESTRAIS
QUE DA MENTE DESSE POVO
NÃO SE APAGA NUNCA MAIS
ESQUECER A NOSSA HISTÓRIA
ISSO AFIRMAMOS: JAMAIS
Dedicado aos que combateram, resistiram e deixaram grafados na história a ideia de que jamais teremos que aceitar uma dominação pela opressão.
Em agradecimentos especiais: Ao escritor e jornalista Euclides da Cunha ao escritor Peruano Mario Vargas Llosa, e aos que fizeram suas obras escritas, cantadas e faladas retratando essa parte da nossa história que só tem o gosto da verdadeira essência, por ter acontecido justamente no sertão da Bahia.
1ª Expedição - outubro de 1896
2ª Expedição – janeiro de 1897
3ª Expedição – março de 1897
4ª Expedição – 5 de outubro de 1897
Para definir o homem sertanejo Euclides da Cunha registra em sua narrativa:
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente.” […]
Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. […] Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas.
O homem transfigura-se. Empertiga-se, […] e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.
Caldas de Cipó BA - 07 de agosto de 2022
Carlos Silva – é poeta, cantor compositor, historiador e biografo. Mestre de Culturas populares, traz na essência das suas obras, o viver desse povo que faz da nossa história o enredo criativo da luta e da resistência de uma nação que desde cedo, teve que aprender se defender para tentar sobreviver as mazelas impostas.
Quantos destes, não tiveram a oportunidade de deixar suas sementes para uma maior povoação nos nossos sertões?
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