Homenagem à fazenda São João- Pedra Preta-RN
Na fazenda São João,
Que deixei meu coração
Em meio aquele sertão,
Nas terras de Pedra Preta.
De histórias mais que belas,
Parecendo uma aquarela,
Feito tinta numa tela,
Que Deus pintou tão perfeita.
Uma fazenda feliz,
Que plantei minha raiz,
De onde fui aprendiz
Da vida, do batalhar.
Trago ainda na lembrança
O meu mundo de criança,
De pai e mãe com bonança
Indo a terra cultivar.
Um lugar que, no inverno,
Com o seu riso paterno,
O verde vestia o terno
Trazendo muita fartura,
Com extenso milharal,
Muito gado no curral,
Com galinhas no quintal
Aninhando pra postura.
Lembro a noite enluarada,
Dum prato com coalhada
E da minha rede armada
Reclamando em seu rangido.
Lembro o nosso boi cancão ,
Que pai com tanta atenção
Ia em sua direção,
No rumo de seu mugido.
De mãe varrendo o terreiro,
Dos banhos lá no barreiro,
Numa chuva de janeiro
Que fazia tudo encher.
Lembro de cada quixó,
Do caçuá, de cipó,
Das caçadas de mocó,
Pelas pedras se esconder.
Da casa com tanta paz,
Com o pôr do sol atrás,
Vizinha do tio Braz
Com minha tia Dedice.
Já faz tempo e não esqueço,
De saudade eu enlouqueço,
Mas a Deus sempre agradeço
Por tão rica meninice.
Levo comigo esse amor
Do meu berço criador.
Meu peito chora de dor
Relembrando meu passado,
Terras de Júlio, meu tio,
Dono daquele baixio,
Que tinha pequeno rio
Passando no meu roçado.
Lembro o paiol de feijão,
O bom e velho pilão
Encostado no fogão
Ao lado do nosso pote,
Do barril e da cangalha,
E do meu chapéu de palha,
Companheiro de batalha
Quando capinava o lote.
José Amaro de Melo,
O meu pai, homem singelo,
Fez de lá nosso castelo
Com sua Maria Pia.
Envolto em dignidade
Deu exemplo de bondade,
Viveu a paternidade
Com muita sabedoria.
Bem quando o meu pai partiu
A fazenda sucumbiu,
A nossa casa ruiu
Provando da solidão.
Em meio tanta ruína
Esse tempo não me ensina,
Parece ser minha sina
Nunca esquecer São João.