Recreio da Quarta Série

E se eu conseguisse dar

Um pulo no meu passado

Pulava bem avexado

Sem nada querer levar

Só pra lá me encontrar

Vivendo sem ter receio

Bem na hora do recreio

Do incrível quarto ano

Que me fez tão soberano

Mesmo sendo magro e feio

Isso nunca me impediu

De ser bastante feliz

Pois de tudo um pouco fiz

Tristeza nunca existiu

Nem nenhum de nós sentiu

A tal infelicidade

Sendo hoje uma verdade

Bem doída e intragável

Totalmente indesejável

Que destrói a sanidade

Quero ver aquela tia

Botando nossa merenda

E nos dando reprimenda

Em cada prato que enchia

Pois sempre sempre ela via

Toda fila se empurrando

Muitas vezes derramando

A sopa do coleguinha

Manchando a roupa que tinha

E indo embora chorando

Vou rever a nossa pressa

Para fome saciar

Sem ter tempo de sentar

Vinha a segunda remessa

Enquanto a sopa não cessa

Dava para ir repetindo

Mesmo com bucho explodindo

Corria pra diversão

Ao encontrar uma então

ia logo se inserindo

Tica tica, amarelinha

Polícia pega ladrão

Tiroteio, garrafão

Pula corda, bandeirinha

E queimada também tinha

Mas o tal jogo de bola

Que muito dedão esfola

Era sempre o mais legal

A diversão principal

Que tinha na minha escola

Num campo de chão batido

Com as traves de chinelo

Mesmo sendo tão singelo

Em um tempo bem sofrido

Não deixou de ter sentido

Para nossa formação

Em termo de diversão

Foi o campo mais perfeito

Dos que conheço, o eleito.

Diz assim meu coração

Quantos joelhos ralados?

Dava de saldo a partida.

Qual valor dessa ferida?

Para muitos caningados.

Com seus couros tatuados

Contando nossa história

Um incentivo a memória

Sendo um diferencial

Desse tempo especial

Com tão linda trajetória

Logo o professor chamava

Para a sala retornar

E a aula continuar

Toda meninada entrava

Bastante suor pingava

De rosto muito cansado

Era um toma água danado

Antes de ir se sentar

Tinha gente a reclamar

Por está bem machucado.

Rever da minha carteira

O professor escrevendo

Com o pó do giz descendo

Como uma fina poeira

Formando uma carreira

No piso da minha sala

De repente ele nos fala

Esse é o dever de casa

Ver se ninguém se atrasa

Logo toda turma cala

Se meus dez anos voltasse

Ao lado do meu amigo

Que dividia comigo

Os confeitos que comprasse

Antes de que eu confessasse

Tá gostando de Maria

Que sorriu pra mim no dia

Que me viu cair ao chão

Por causa dum trupicão

Em frente à secretaria

Como não volta o recreio

Que ficou lá no passado

Num tempo imortalizado

Por onde muito passeio

Vivo nesse devaneio

De não poder retornar

E por jamais me encontrar

No tempo que tanto amei

Só restou pelo que sei

Foi de saudade chorar

Lino Sapo
Enviado por Lino Sapo em 07/08/2022
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