EU E TU

Eu sou um pássaro triste

Vagando na amplidão

Sem conforto e sem amparo

Preso em um alçapão

A tristeza é minha amiga

Meu ninho é a solidão

Tu és a lua cheia

Minha doce inspiração

A luz que me alumia

Meu sonho minha ilusão

O meu feliz arrebol

Os raios quentes de Sol

Queimando o meu coração

Eu nasci antes do tempo

Cheguei na hora errada

Num dia de lua cheia

Em tempo de invernada

O rasga-mortalha cantava

Dando a sua tesourada

Tu és o riso, a alegria.

O pão, o meu alimento.

A água que mata a sede

Teu amor é o fermento

Que ainda me faz viver

E na tua boca beber

Esse doce sentimento

Eu sou a estrada sem fim

O caminho desprezado

Eu sou a árvore sem sombra

Sou um cão abandonado

Sou um ermo, um deserto.

Que nunca foi explorado

Tu és o sol que brilha

Aquecendo a minha vida

A sombra que me espera

Doce suave guarida

É a santa que venero

Tudo o que mais quero

Pra dar vida à minha vida

Sou um lago sem água

Sou um rio que secou

Sou a flor desbotada

Que no galho já murchou

Sou um espelho sem brilho

Que já se despedaçou

Tu o carinho que não tive

O sol que me aqueceu

A estrela que me guia

Abrigo que Deus me deu

Minha paz e harmonia

Minha alma em agonia

Espera um carinho teu

Sou a lareira sem fogo

Pedra no meio da estrada

Sou a erva do caminho

Que por todos é pisada

Eu sou o eco sem voz

A palavra não falada

Tu és minha salvação

A paz por mim esperada

A força que me dá força

Nesta vida angustiada

Tu és a minha esperança

Saiba que desde criança

Que por mim tu és amada

Eu sou o desprezo de todos

O desgosto de alguém

O livro que não se lê

O remédio que não tem

Eu sou a trilha errada

Nela não anda ninguém

Tu és o que mais quero

E por quem vivo esperando

Tu foi e sempre serás

Com quem eu vivo sonhando

Nunca irei te esquecer

Mesmo depois de morrer

Continuarei te amando

Sou os escombros da vida

Sou a palavra errada

O inverno fora do tempo

A seca não esperada

Eu sou a safra perdida

Eu sou o resto do nada

Tu és a alva do dia

A deusa da madrugada

A barra do amanhecer

Minha sereia encantada

O meu sol de primavera

Eu vivo à tua espera

Pra ter a paz desejada

Eu sou um dia treze

Dia de superstição

Por isso eu sou assim

Sou dia de maldição

Só chego fora do tempo

Ninguém lhe dá atenção

Tu divina mulher

És tudo o que eu desejo

Tu és o bálsamo da vida

És a doçura do beijo

Vem depressa me abraçar

E nossa sede matar

Trocando beijo por beijo

Zé Bezerra o Águia de Prata
Enviado por Zé Bezerra o Águia de Prata em 28/11/2007
Reeditado em 28/11/2007
Código do texto: T756623
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