NO TEMPO DA ESCRAVIDÃO!!!

Estou muito envergonhado

Do Brasil de antigamente

Que mantinha indignamente

Todo negro escravizado

Daquele cruel passado

Sinto repugnarão

Do traficante vilão

Que praticava a mutreta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

Quando o navio negreiro

Cruzava o oceano

Trazendo o povo africano

Para o solo brasileiro

Vendia pra o fazendeiro

Que fazia a exploração

Daquele povo que não

Continha nobre etiqueta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

Distante da sua terra

Longe dos seus ancestrais

Tratados como animais

Que dá pátria se desterra

Eles não faziam guerra

Nem sequer revolução

Cuidavam da plantação

De um tremendo picareta,

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

Trabalhavam sol a sol

Sem cumprir regra de escala

Dormiam numa senzala

Empilhados num paiol

Bem antes do arrebol

Já entravam em ação

Logo que o feitor mandão

Mostrava sua faceta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

O trabalho era de graça

Sem ter nenhum honorário

Se alguém falasse em salário

Sofria grande ameaça

Colocavam a mordaça

Na boca do falastrão

Apanhava sem razão

E só fazia careta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

O escravo era amarrado

No tronco sem piedade

E na maior crueldade

Tinha o corpo retalhado

E depois era salgado

Na maior judiação

O Sinhô sem coração

Colocava-o na sarjeta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

A negrinha era obrigada

A trabalhar de babá

Para o filho da Sinhá

Que ficava acomodada

Vivia sem fazer nada

E sem que houvesse razão

Xingava, dava carão,

Era a imagem do capeta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

Foi um viver de tormento

A vida do escravizado

Cruelmente maltratado

Pelo Sinhô violento

Que explorava esse elemento

E obrigava o cidadão

A buscar água em galão

No pote ou na ancoreta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

O Sinhô mandava o escravo

Matar um porco cevado

Que depois de esquartejado

Dava um grito em tom de agravo

Ordenava muito bravo

Ô negro preste atenção

Da carne eu faço questão

Leve a cabeça e a paleta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

Deveres o negro tinha

Porém, não tinha direitos

Enfrentava preconceitos

Durante a vida todinha

Precisava andar na linha

Sem mudar de direção

Pra não haver confusão

Evitava qualquer treta,

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

E mesmo velho e doente

O negro era obrigado

A tralhar no pesado

Fosse na chuva ou sol quente

Ninguém era complacente

Com aquela situação

Sequer havia isenção

Pra o que andava de muleta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

Trabalhavam no engenho

Também no canavial

Ou mesmo no cafezal

Com o maior desempenho

O trabalho era ferrenho

Com muita disposição

Como gratificação

Não ganhava uma gorjeta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

O trabalho era forçado

Sem ter trégua pra descanso

O feitor em cada lanço

Dava um grito no coitado

Que ficava atordoado

Com aquela ingratidão

Nem tinha o direito então

De se encostar na mureta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

O ventre livre afinal

Chegou para o que nascia

E essa lei se estendia

Pelo país em geral

Essa atitude legal

Gerou grande confusão

Além de muita pressão

Pra guardá-la na gaveta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

Outra lei apareceu

De novo nesse cenário

A do sexagenário

Que a corte concedeu

O Sinhô não entendeu

As regras da mutação

Pois a sua pretensão

Era guardar na maleta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

Mas, enfim chegou a vez,

De dá fim a escravatura

E esse ato de bravura

A Princesa Isabel fez

Em maio a treze do mês

Deu-se a abolição

Pra assinar a lei então

Era de ouro a caneta

Nesse Brasil de Mãe Preta

De caboclo e Pai João!

Carlos Aires

14/05/2022