O Antigo Ferro de Engomar!!!
O Antigo Ferro de Engomar!!!
Velho ferro, hoje te vejo,
Totalmente descartado
Das labutas do outrora
Já se encontra aposentado
Teu tempo útil passou
E também te relegou
A um ser sem ter valia
Portanto estás esquecido
Descartado e excluído
Das lutas do dia a dia.
Ninguém já nem lembra mais
Que no passado era assim,
Passava as roupas de cáqui
As de mescla e as de brim
As de casimira e linho
Desde a barra ao coladinho
Você deixava bonita!
Da mulher rica ou da pobre
Passava o tecido nobre
E o vestidinho de chita.
Você foi um utensílio
Indispensável em casa
E quando alguém precisava
Era só lhe encher de brasa
Atiçava e assoprava
Quando você esquentava
Deslizando sobre o pano
Mesmo a roupa desgastada
Depois de ser bem passada
Virava. "Nova do ano".
Mesmo o vestido de noiva
Cheio de delicadeza
Precisava de um ajuste
E esse toque de beleza
Pra ficar bem alinhado
Você era encarregado
Desse fino ajustamento
E assim com toda cautela
Deixava a noiva mais bela
Pra hora do casamento.
O seu trabalho era duro
Mas pra ninguém era estranho
Passava lençol de cama
Toalhas de mesa e banho
Roupas do povo da roça
Do morador da palhoça
E da pomposa mansão
Do doutor do esmoler
Do carteiro, do chofer,
Sem nenhuma distinção.
De qualquer recém-nascido
Engomava o enxoval,
Também roupas de prefeito
De padre e policial
Andarilho, retirante,
Vendedor, comerciante,
Trabalhador, vagabundo,
Do honesto e do canalha
E até mesmo na mortalha
De quem vai pra o outro mundo.
Nos mais pomposos palácios
Sempre foste essencial
Pois desde as roupas do rei
As do rude serviçal
Foram por te engomadas,
Hoje fora das paradas
Confinado no museu
Sem jeito, sem atitude
E o que goza a juventude
Despreza o legado teu
Hoje só os mais idosos
Conhecem bem tua história
Pois compartilham contigo
Os bons momentos de glória
Ora estás abandonado
Mas teu brilhante passado
Ninguém pode descartar
Para aquele que não sabe
Esclarecer bem te cabe,
Que é o ferro de engomar!
Carlos Aires
Recife PE
03/01/2022