*FALTA CHUVA NO SERTÃO MAS NAO FALTA VIOLEIRO,* -
Terra treme seca a fonte
Gado berra sem beber
Todos rezam pra chover
Fazem prece em cada monte
Sol queimando no Horizonte
O sofrer chega ligeiro
Cresce a fé do bom romeiro
Na sua santa devoção
Falta chuva no sertão
Mas não falta violeiro
Acauã pia ao norte
Essa ave de agouro
É triste se ver um touro
Tropeçando em sua morte
Engolido pela má sorte
Da o mugido derradeiro
Chora triste o roceiro
Jorrando lágrima ao chão
Falta chuva no sertão
Mas não falta violeiro
O tilintar da viola
Alivia sofrimento
E até por um momento
É isso que lhe consola
O orvalho por esmola
Pingou fraco no terreiro
A criação no chiqueiro
Chora e causa comoção
Falta chuva no sertão
Mas não falta violeiro
Vi um lavrador chorando
Escondido na varanda
Emoção quando desanda
O Poeta sai cantando
Novo mote inventando
No duro pó do tabuleiro
O seu verso de primeiro
Chega corta o coração
Falta chuva no sertão
Mas não falta violeiro
O cantar mesmo engasgado
Num soluço de tristeza
Se vê logo com clareza
O prantear disfarçado
O sofrer é transformado
Num versar tão izoneiro
Pois sertanejo festeiro
Faz do sofrer uma oração
Falta chuva no sertão
Mas não falta violeiro
Pede ao Bom Jesus menino
Que a chuva venha.molhar
A terra para plantar
É sonho de nordestino
Que mesmo com sol a pino
Chama o Deus verdadeiro
Pois nesse chão brasileiro
Não falta fé nem oração
Falta chuva no sertão
Mas não falta violeiro
Mote: Paulo Ernesto
Glosa: Mestre Carlos Silva.