A ESTRANHA VIDA DE ZÉ DO BREJO!!!
Zé do Brejo era franzino
Magro, de baixa estatura,
Mesmo sendo pequenino
Trabalhava com bravura!
A mão calejada e grossa
De laborar pela roça
Com foice, enxada ou facão,
Pá, picarete, chibanca,
Ferro de cova, alavanca,
Com as quais cavava no chão.
Lutava de sol a sol
Sem de nada reclamar,
Desde o mais tenro arrebol
Até a noite apagar
Do dia o último clarão,
Ele parava, mas não
Ficava em casa deitado
Continuava na lida
Pra preparar a comida
De levar para o roçado.
Não dava pra imaginar
Porque trabalhava tanto
A ponto de não parar
No domingo ou dia santo
Ninguém via Zé parado
Mesmo sendo em feriado
De natal ou fim de ano,
De São João ou carnaval,
Parar de modo geral
Nunca coube no seu plano.
Sequer um palmo de terra
Zé do Brejo possuía
Morava no pé da serra
Na Fazenda Confraria,
Pertencente a doutor Nino
Que empregou o peregrino
Para os labores da lida
E o colocou num ranchinho
Pra que naquele cantinho
Passasse o resto da vida.
Viveu solitariamente
E pra evitar empecilhos
Sequer lhe passou na mente
Casar, ter mulher e filhos
Para ser seus descendentes,
Não tinha pais nem parentes
E nesse ermo profundo
Sem colegas, sem amigos,
Amargando esses castigos
Vegetava no seu mundo.
A feira não frequentava,
Missa, novena, leilão,
De tudo Zé se afastava
Fosse qualquer diversão
Não se fazia presente,
Porque trabalhar somente
Era o que lhe enchia a vista,
Vestir-se bem pra sair
Passear se divertir
Não cabia em sua lista.
Num viver pobre e mesquinho
Habitava o pé do morro
Não criava um passarinho
Um gato, um louro, um cachorro,
Pato, guiné ou galinha,
Zé não queria e nem tinha
Nem um jumento cansado,
Aquele bosque esquisito
Ele ocupava restrito
Completamente isolado.
Não recebia visita
Nem visitava ninguém
A solidão infinita
Talvez, lhe fizesse bem,
Já fraco e envelhecido
No seu ranchinho escondido
Veio a morte e o recolheu,
Pôs fim na sua corrida.
Assim passou pela vida
Porém, viver, não viveu.
Carlos Aires
25/10/2021