LAMENTO REAL
Pedaço de carne jogado
Num canto sem ter valor
Insistente na palavra
Amarga a solitária dor
No peito só tem tristeza
Na mente a incerteza
Sem enxergar do céu a cor
Chora triste e solitário
O peito já sufocado
A mente sem alegria
Sofre assim um bocado
O desprezo lhe castiga
Seu corpo sente fadiga
Pois vive muito cansado
Pede a morte, mas a sorte
Nem de morrer lhe procura
Sente-se um fardo imenso
Sem a menor estrutura
Só ele sabe que não tá bem
Mas não aparece ninguém
Que entenda sua amargura
Chora só sem ter prazer
Sente-se tão desesperado
Sem um cobre ou prata alguma
Ficando assim confinado
De ninguém tem a resposta
Arrisca dizer e aposta
Que por todos foi desprezado
Solidão é uma doença
Que mata assim com vontade
E quem por ela assim passa
Prova a sua crueldade
O choro calado e preso
O que um dia foi aceso
Já perdeu a claridade
Elogio não mata fome
E nem aplauso com certeza
Traz sustento ao vivente
E nem enche sua mesa
O corpo vai amofinando
E o cabra vai afundando
Nada mais lhe dá clareza
Muita coisa por fazer
Mas lhe falta a vontade
Já começa encarar
Tá perdendo a mocidade
Ou o pouco lhe restando
De um viver que está findando
Essa é sua realidade
Come, dorme, se levanta
Todo dia é igual
Incompetente se intitula
Não presta nem pra fazer o mal
Ou fazer coisa errada
Já que não serve pra nada
Pra que viver afinal
Pra ouvir reclamações
Queixumes e mal dizer
Se da vida já não acha
Nenhum tipo de prazer
Quieto em silêncio profundo
Lamenta e mergulho fundo
Sem achar o que fazer
O fruto do seu oficio
É um sofrimento de vida
O aluguel logo atrasa
Procura e não vê saída
Como então irá fazer
Pra isso tudo resolver
E quando faltar a comida?
Vez em quando uma piada
Um olhar assustador
Desses que sacode a alma
E a calma muda de cor
Quando o dinheiro acaba
A vida do Homem desaba
Perde o gosto, a paz e o amor.
Eu grito, ninguém escuta
Se eu chamo ninguém me ver
Se peço todos se afastam
Não querem se envolver
Só no câncer são solidário
Quem não recebe honorário
Tá dificil pra viver