Na casa que nois morava
Na casa que nois morava
Regada de simplicidade
Sem luxo sem tinta e sem cor
Sobrava a felicidade
Dos caibros a
cumieira
Das teias até a purteira
Se via a paz de verdade.
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Na casa que nois morava
De porta e janela surrada
Batente de juremeira
Protegendo a entrada
Tinha um xero de arueira
Com as fulor das gameleira
E era toda perfumada.
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Tinha paz e doce sorriso
Guisado cuscuz e farinha
Tripa assada na brasa
Era essa riqueza que tinha
Uma viola na parede
Dois tornos e uma rede
E pra lapada, uma quartinha.
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Uma muringa e um pote
E a mesa com 4 cadeira
Uma dispensa quebrada
Servindo de cristaleira
Um bom colchão de capim
Batata inhami e aimpin
E de taboa uma esteira.
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Um rádio melodiando
Uma canção caipira
Teixeirinha era o cantor
Que de mim emoção tira
Era assim que eu vivia
Com tanta pureza que eu via
na minha SERRA ITAMIRA.
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Minha amada bem cedinho
O desejum preparava
Ajeitando uma cerca
Por ali eu consertava
Quando então com muita fé
Dizia, vem tomar café
E na mesa eu me sentava.
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Fazia o sinal da cruz
Agradecendo pelo pão
Pelo labor e pela vida
Vivida neste torrão
Na nossa velha tapera
Onde nois naquela espera
Pra Deus fazia oração.
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Era uma prece demorada
Com toda dedicação
Bençoa papai e guarda
Com a tua proteção
A vida do teu devoto
Pois nos teus pés eu me boto
Com fé amor e devoção.
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Aceite nesse momento
A ti a nossa gratidão
Proteja quem sente fome
Frio e sede nessa nação
Dai a cada um de nós
Ouvidos a nossa voz
Que brota do coração.
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Com essa oração feita
Começava então comer
O Pão estava agradecido
No jeito de se agradecer
Pois na casa que nois morava
A mão de Deus nos guardava
Em proteção e poder.
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Entregue nas mãos de Deus
E não reclame de nada
Muito tenha agradecer
Cumprindo sua jornada
Carregue e aceite sua cruz
Entregue o coração a Jesus
Seja qual for tua morada.
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Carlos Silva.
23 de setembro de 2021
Cipó-BA.