NO FINAL DE UMA FRIA MADRUGADA!!!
Mote e glosas de Carlos Aires
Segue a noite tranquila o seu destino
Caminhando bem calma e lentamente
O diurno dorme tranquilamente
E o noturno não vai bater o pino
Seja um peba, um gambá ou um felino,
Vão à luta em busca do seu “pão”
No afã de arranjar a refeição
Só retorna ao romper da alvorada
No final de uma fria madrugada
Quando o dia desponta no sertão!
Uma vaca levanta sonolenta
Se espreguiça e segue pra o curral
O carão que já está no lamaçal
Da lagoa, em que a água está barrenta,
O campônio encangalha a jumenta
Vai direto pra várzea do grotão
Bem disposto a procura de ração
Pra que mate a fome da boiada
No final de uma fria madrugada
Quando o dia desponta no sertão!
No momento em que se quebra a barra
Surge a mecha de luz no horizonte
No baixio, na encosta ou no monte
Passarinhos já fazem sua farra,
Patativa se junta ao gangarra
Faz ao dia a primeira louvação
O xexéu duelando com o cancão
Na contenda feroz e acirrada
No final de uma fria madrugada
Quando o dia desponta no sertão!
Os estalos do galo de campina
Ritmados de formas colossais
Contracenam com o dos sabiás
Dando um brilho a hora matutina
Também cantam no topo da colina
Pintassilgo, canário e azulão,
O concriz tagarela e fanfarrão
Anuncia que é o rei da passarada
No final de uma fria madrugada
Quando o dia desponta no sertão!
E a dona de casa camponesa
Muito cedo desperta e vai à luta
Esbanjando coragem a matuta
Já prepara a comida e leva a mesa
O café saboroso é uma beleza
Com bolinhos de caco e requeijão
E o cuscuz na primeira refeição
Misturado com leite ou coalhada
No final de uma fria madrugada
Quando o dia desponta no sertão!
O rurícola vistoriou o gado
Prestou bem atenção em cada rês
Faz o seu desjejum e chega a vez
De cuidar da lavoura no roçado
Tem motivo pra estar bem empolgado
Com os rumos da sua plantação
Pois o milho está todo no pendão
E o feijão dando início a florada
No final de uma fria madrugada
Quando o dia desponta no sertão!
Carlos Aires
13/09/2021