UM CORDEL GAUCHO
O Brasil é muito rico
E extenso em cultura
Cada um com o seu modo
Sua conduta e postura
Mas somos bem informados
Através da literatura
Entre o sul e o nordeste
A diferença é gritante
Na forma do linguajar
Tem diferença bastante
Cada um a sua maneira
Faz tudo mais interessante
O sotaque a pronuncia
O modo de a gente falar
São estas bem diferentes
De qualquer outro lugar
Com meu sotaque arrastado
Vou em gauchês versar
Então esteja preparado
Pra uma bela viagem
Daqui até o Rio Grande
Não precisa de bagagem
Viajar na literatura
É imaginar sua paisagem
Arrecém eu cá estava
Um tanto atucanado
Acho-me um Bagual
E não um ser esgualepado
E peço ao Patrão Velho
Não me deixe engarangado
Me senti tal qual borracho
Quando fica muito arriado
E quando sai do bolicho
Pensa em seu rincão sagrado
E as vezes vai pro surungo
Se distrair um bocado
Não vivo com arreganho
Porque não sou abostado
No meu Pago eu mesmo faço
Porque sou abagulado
Só me aquieto da lida
Somente quando baixado
Sinto-me assim bem guapo
E gosto de bombear
E um tanto balaqueiro
Aprecio um bom trovar
Sou Gaudêncio de verdade
Sou bucha se precisar
Vivo sempre campeando
Feito cusco desconfiado
De nada sinto cagaço
Vivo sempre preparado
Não ando em chinaredo
Por não ver bom resultado
Não gosto de chinelear
Pra fazer isso? Capaz!
Eu vou deitar o cabelo
Despacito, vou em paz
Vou dar uma banda por ai
Como todo gaúcho o faz
Não gosto de dar um laço
Nem de entrevero também
Só se estiver na mesa
Isso muito me convém
Vivo em cima do laço
Feito um trilho de trem
Vou me espraiar no fandango
Na Kerb dessa semana
E se desabar o tempo
Ai o destino engana
Mas se der pra fazer graça
Será assim tri bacana
Piso na faixa do mundo
Ficar de cara, não fico
Não sou de me fresquear
Pois logo identifico
Fez frio de ranguear cusco
Mas minha fatiota eu fabrico
Vou Gauderiar com amigos
Na roda de chimarrão
Não vamos falar de Guampa
Seria grossura então
E guasca seremos todos
Pra não ter surpresa não
No guaiba tá piscoso
Guaiaca já preparei
A Indiada estará junta
Tanta lábia que já sei
Se é pra juntar a gauchada
Nisso creia eu sou rei
O minuano tá chegando
Sofrem Merca e magrão
Estes ficam assustados
Parecendo mongolão
Mas não se pode ratear
E nem parecer moscão
Ao comer um negrinho na festa
Um nó nas tripas me deu
Bastou um naco assim
E tudo logo aconteceu
Não deu nem pra sestear
Porque tudo escureceu
Mas eu vou negacear
Para não acontecer
E gritarei Ôigalê
Toda vez que for comer
Pra evitar outra vez
O que quase me fez morrer
Vou chamar a gauchada
Uma paleta Separar
Juntar os Piás de casa
E quem mais puder chegar
Pois vai ter churras do bom
E hoje o chão vai queimar
Deixa cá tudo comigo
Porque hoje estou patrão
Tudo aqui é só festança
E pandorga não tem não
Hoje o relho estala
Nesse meu belo rincão
É pra virar num talagaço
Sem trampa e nem tramposo
Deixa a brasa assando
Pra ficar bem mais gostoso
Só não come se for Taipa
Ou vivente desastroso
Vou fazer uma vianda
Pra comer de madrugada
Pois se eu acordar com fome
Ela já ta preparada
Pois um homem sem comida
Já não serve é para nada.
Se faminto eu me sinto
Muito assim abichornado
No proseio com um Biriva
Que estava então do meu lado
Confesso nem sei seu nome
Mas gostei do proseado
Vejo com alegria
A vida da gurizada
Se tudo fosse só bucha
A lida estava virada
Por isso vivo campeando
Uns versos pra gauchada
Trato com muito respeito
Qualquer pessoa no mundo
Em qualquer lugar que chego
Falo com orgulho profundo
De todo amor que eu sinto
Por meu Rio Grande fecundo.
Para melhor entender
O que aqui foi mostrado
Convido a procurar
Pra ficar bem informado
O que quer dizer de fato
Tudo que foi apresentado
Pois deu trabalho fazer
Onde eu fui pesquisar
Cada palavra gaúcha
Voce também vai encontrar
Todo o significado
Desse belo linguajar
Agradeço a gauchada
Pela rica inspiração
Aceitem do meu Nordeste
O meu aperto de mão
Pois saibam que eu lhes tenho
Dentro do meu coração.
Carlos Silva –
Poeta, cantador, historiador, escritor. É também cordelista, compositor e músico.
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