MEU CORAÇÃO DE MATUTO!!!
Meu coração de matuto
É um campônio veterano
E por mais que seja astuto
Não consegue ser urbano
Na urbe a vida é sem graça
E a cada dia que passa
Perde um pouco do seu lume
Pois um camponês de fato
Do viver rude no mato
Jamais perde esse costume.
No meio da madrugada
Sonha que está lá na brenha
Cumprindo sua jornada
Acendendo o fogo a lenha
Disposto e muito contente
Fazendo seu café quente
Bem pilado no pilão
Mas logo acorda tristonho
Ao notar que foi um sonho
Num momento de ilusão.
Não consegue se esquecer
Das coisas da sua terra
Da cacimba de beber
Que ficava lá na serra
Da várzea, do capinzal,
Da cocheira, do curral,
Das vacas, da bezerrada,
Da lavoura, do roçado,
Da chibanca, do machado,
Da estrovenga, da enxada.
De quando o mato eu brocava
Com muita disposição
E a madeira aproveitava
Na feitura de carvão
Das coivaras, da fumaça,
E da água de cabaça
Com cocada ou rapadura
Na luta do dia a dia
Relembra quando comia
Fruta de palma madura.
Meu coração de matuto
Não se esquece da vacada!
Da estrela, da pretinha,
Da vermelha, da malhada,
Da brejeira, da baleia,
Camponesa, dona feia,
A burguesa, a lavandeira,
A pintada, a alegria,
Estrelinha, nostalgia,
Esbelta e passarinheira.
Do seu jumento inquieto
Do seu cavalo alazão
E do seu terno completo
Perneiras, chapéu, gibão,
A manta, a sela, a cangalha,
Do seu cigarro de palha
Não consegue se esquecer
Do seu singelo ranchinho
Humilde, bem pobrezinho
Onde sentia prazer.
Lembra as quebradas de milho,
As apanhas de algodão,
Das ovelhas, do novilho
Amarrado no mourão,
Dos bezerros em desmame,
Daquelas cercas de arame
Já nem lembra quantas fez!
Trabalho árduo, pesado,
Que o deixava enfadado
Mas, lhe enchia de honradez.
Como queria voltar
Pra essas lutas campesinas
Nas plagas do seu lugar
Correr naquelas campinas
Pra satisfazer seu ego,
A esse chão eu me apego
Porque dele sou um fruto
Exaltá-lo é o meu dever
Para assim prevalecer
Meu coração de matuto.
Carlos Aires
13/08/2021