A PALHOÇA DO ESMOLER!!!
Nas andanças que já fiz
Por esse mundão de Deus
Passei por mansões de nobres
E choupanas de plebeus,
O causo que vou narrar
Não dá nem pra comparar
Com outra história qualquer
Pois a coisa é muito séria
Por se tratar da miséria
Na palhoça do esmoler.
A imagem da tristeza
Estava bem estampada
Pois o pobre morador
Ali não tinha era nada
Sem pai sem mãe sem irmão
Vivia na solidão
Amargando seu castigo
Sem sequer ter um parente,
Ali não ia um vivente
Por não ter nenhum amigo.
Naquele rancho de taipa
Todo coberto de palha
Sem nada ter de conforto
Só tinha sujeira e tralha,
Lá num canto de parede
Via-se uma velha rede
Suja e toda remendada
Uma bengala, um cacete,
E um velho tamborete
Com uma perna quebrada.
Tinha uns trapos pendurados
Lá num recanto da sala,
Um bisaco e uma corda,
Um candeeiro, uma mala
Com a tampa em avaria,
E dentro dela se via
Que nada tinha guardado
Tinha um pote na cozinha
Além disso uma quartinha
E um fogão apagado.
Num cantinho do fogão
Só tinha feijão bichado,
Um pouquinho de farinha
Outro de arroz estragado
Uma chaleira vazia
Demonstrando que algum dia
Nela, foi feito café,
E na velha camarinha
Uma só cama não tinha
Só um bornal e um boné.
Som ter nada pra comer
A fome era aparente,
No roste desfigurado
Tinha tristeza somente
Dentro de seu coração,
Sofrendo desolação
Mesmo com toda humildade
Ouve chacota e piada
Nessa vida amargurada
De viver da caridade.
Baratas, moscas, cupins,
Via-se constantemente
E ratos tinha de sobra
No rancho do penitente
Ele com um ar sombrio
Olhava para o vazio
Num desalento infeliz
Amargando o desconforto
Era um vivo semimorto
Pois o destino assim quis.
Ninguém ao menos olhava
Praquele infausto vivente
E assim ia carregando
A sua cruz inclemente
Naquele cubículo imundo
Já que ali era o seu mundo
Diferente que requer
Que o ser humano reflita
E amenize a desdita
Daquele pobre esmoler.
Carlos Aires
08/06/2021