O MIGRANTE!!!
Esse cidadão que passa
Com o seu passo inconstante
Mostra um cansaço aparente
No seu suspiro ofegante
Vai seguindo sem destino
É só mais um peregrino
Que segue e não se maldiz
Deixando a terra querida
Para encarar nova vida
Lá pelo sul do país.
O seu coração de fato
Não esconde os seus abalos,
Os seus pés nas alpercatas
Estão repletos de calos,
E aqueles olhos tristonhos
Demostram que os seus sonhos
São pesadelos somente
Deixou a esposa e os filhos
Tornou-se um dos andarilhos
Que sem rumo segue em frente.
Deixou o seu chão querido
Onde nasceu e foi criado
Por não encontrar trabalho
Nem mesmo no alugado,
Sem haver mais condição
Tomou essa decisão
Que de mágoa lhe consome
Por não lhe restar mais nada
Resolveu pegar a estrada
Para não morrer de fome.
Assim segue pensativo
No matulão só tem tralha,
Passa o dia viajando
Seu alimento é migalha,
A noite é mais um castigo
Vai dormir ao desabrigo
Pelas beiras do caminho
O cansaço lhe atormenta
E a sua dor só aumenta
Com esse viver mesquinho.
Amanhece um novo dia
Começa outra maratona
Ninguém nada lhe oferece
Nem ele pede carona,
Vai em frente passo a passo
Mesmo com todo cansaço
Vai levando a sua cruz
Amargando a triste sorte
Mas, por ser bastante forte
E a fé é quem lhe conduz.
Passa meses viajando
Até chegar ao sudeste,
Quando para logo dizem
Chegou um cabra da peste!
Ele se apressa em dizer
Me arrume o que fazer
Nem que seja um quebra-galho,
Estou faminto e sedento
Mas o meu maior intento
É encontrar um trabalho.
Logo ele arranja o serviço
E começa a trabalhar
Se empenhando noite e dia
Na esperança de ganhar
Um dinheiro mais folgado
Pra voltar pra seu estado
No lugar que foi nascido
Para os braços da amada
Junto a sua filharada
Lá no seu torrão querido.
Por lá trabalha alguns anos
E retorna pra sua terra
Pra conviver com a família
Lá no pezinho da serra,
Porém está bem feliz,
Pois sua vida condiz
Com a lida campesina,
Vê-se obrigado a migrar
Mas volta pra o seu lugar
Para cumprir sua sina.
Carlos Aires
28/05/2021