Sujeito desmantelado

Vou lhes narrar nesse instante

A que ponto chega um ser

Que mais prefere viver

Parecendo morto falante

Não dá um passo adiante

E diz com gosto aparente

Repete eternamente

E a todos vai anunciando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Seu nome é Zé Alencar

Do Rosário Olivença

E não há quem lhe convença

Sua conduta mudar

Ou opinião alterar

O proceder do vivente

Que brada alegremente

Como um troféu conquistando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Sujeito desmantelado

Entregue a boa vida

Não valoriza a lida

Vive sempre sossegado

O dia todo deitado

Largado na cama quente

Sem plantar uma semente

Inda diz chacoteando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Papai tá aposentado

Mamãe já se aposentou

Ajuda a eles eu dou

Atendo logo o chamado

Mas gosto de ficar deitado

Que é pra não cansar a mente

Se é pra ficar no sol quente

Ver o juízo cozinhando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Não dou trabalho a ninguém

Que é para não ter trabalho

Nessas coisas eu sou falho

Credo em cruz três vez amém

Cada um dá o que tem

Pra ajudar um inocente

Que vive honestamente

Um bom viver procurando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Deve ser bom trabalhar

Fazer uma ocupação

Mas todos se queixam então

As dores que no corpo dar

Coluna fica a reclamar

A lida num verão bem quente

Que ferve os miolos na mente

Prefiro é ficar meditando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Não tenho pressa pra nada

Por isso escolho o caminho

Estando então eu sozinho

Minh’alma não fica cansada

Eu gosto da madrugada

Que vela meu sono inocente

Sou bom filho e penitente

Nesse viver labutando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Quando a mamãe me chama

E diz vem tomar café

Ô sacrifício que é

Ter que deixar minha cama

Mas sei que ela me ama

E seu amor é envolvente

Levanto “quase contente”

Ao ouvi-la me chamando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Tô me sentindo enfadado

Sem vontade de comer

Será que vou adoecer

Ou pode até ser olhado?

Aqui tem cabra invejado

Que olha a vida da gente

Um monte de indecente

Invejam eu descansando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Se eu to cansado me deito

Se deito vou logo dormindo

E assim o viver vou seguindo

Achando o mundo perfeito

Em tudo damos um jeito

Na rede ou na cama da gente

O corpo se entrega contente

Quando eu já vou me deitando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Como é bom meditar

Em uma cama macia

Sendo de noite ou de dia

O importante é deitar

Viver sem muito esforçar

De forma pura inocente

Se preocupando somente

Com o corpo ali relaxando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Clamo aos deuses mitológicos

Da antiga Grécia querida

Que de forma aguerrida

Nos meus esforços tão lógicos

De esmeros simbológicos

Ditos em verso dormente

Façam-me literalmente

Um semideus agraciando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

O sono é um ato sagrado

Dormir então nem se fala

A alma relaxa e se cala

O corpo vira pro lado

Momento abençoado

Que o bom dormidor sente

Nesse gesto tão frequente

O cabra vai delirando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Se deito já quero dormir

Sem pressa pra me acordar

E se for pra eu levantar

Só pro meu juízo ferir

Ou pensamento consumir

Com lamentar dessa gente

Um lote de incompetente

Que só vive reclamando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Essa conversa de agora

Já tá me deixando cansado

Eu proseei um bocado

Perdi a noção da hora

Vou me deitar sem demora

Pra descansar novamente

O corpo ficou mais demente

Estou até bocejando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Amanhã ao despertar

Nas bandas do meio dia

Almoçarei com alegria

E depois vou repousar

Pra terminar de sonhar

Aquele sonho fervente

Que bole as carnes da gente

E nos deixam levitando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Mas se o sonho é ruim

Não faço questão de sonhar

Volto a me acomodar

E me deito em fim

Mergulhando em mim

Em águas de sono crescente

Que adormece bem quente

O dormir assossegando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Nem Major nem Capitão

Sargento ou General

Deputado federal

Presidente da nação

Coiteiros de Lampião

Nem um garboso Tenente

Ou tenha qualquer patente

Tá melhor que eu deitando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Agora me deem licença

Vão caçar o que fazer

Vou deitar e adormecer

Rezar pra que minha crença

Esse cansaço não vença

No meu momento decente

Vou dormir alegremente

E minha fé exercitando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

Quem quiser ter boa saúde

Preste muita atenção

Não se esforce demais não

Tome outra atitude

Sua consciência mude

Senão pira de repente

Afaste-se de toda gente

Que quer te ver trabalhando

Já amanheço sonhando

Em me deitar novamente

O nobre Zé Alencar

Do Rosário Olivença

Desfaleceu na morrença

Sem nada poder criar

Nenhuma herança deixar

Pro pai, pra mãe, ou parente

Morreu perdido e demente

E outro mote fui criando:

Viveu a vida sonhando

Voltou pro pó novamente

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CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 21/04/2021
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