SOU DA ROÇA SIM SINHÔ!!!

Seu moço eu sou um matuto

De raiz, por ser do mato,

Sem ter estudo e nem trato

Eu sou rude, broco e bruto,

Adoro viver na brenha,

Meu fogão inda é de lenha

Pois nem conheço o de gás,

Aqui vivo livremente

No meio da minha gente

Muito tranquilo e em paz.

A vida aqui é um colosso!

Acordo de madrugada

Ouvindo o soar do vento

E o canto da passarada,

Barulho de cachoeira

O rangido da porteira

E o grito de langor

De um carro de bois chiando

Pela caatinga ecoando

Dá ao viver mais sabor.

Vivo alegre e satisfeito

Sem temer poluição

Sem barulho de buzina

Sem aquela agitação

Que toda cidade tem,

Então pra meu próprio bem

Prefiro viver assim

Onde desfruto a vontade

Da grande felicidade

Que habita dentro de mim.

Jamais quero abandonar

Essa vida campesina,

Pois aqui é o meu lugar

E a natureza me ensina

A conviver nessa terra

Bem no pezinho da serra

Onde nasci e me criei

Esse chão que me deu vida

E deu-me apoio e guarida

Eu nunca abandonarei.

E aqui no meu roçado

Cultivo milho e feijão

A batata a macaxeira

A mamona o algodão

Jerimum e melancia,

A fava que todo dia

O meu almoço assegura

Essa comida roceira

É bem matuta e grosseira

Mas, nos garante a fartura.

Pra misturar a comida

Como preá e nambu,

Mocó e camaleão,

Peba, rolinha e teju,

Não mato por malvadeza

Pois adoro a natureza

E peço por caridade

Não me chame predador

Não mato por desamor

E sim por necessidade.

Quem mata só por prazer

Por mero divertimento

Dizimando a nossa fauna

Sem nenhum constrangimento

Esse sim é um ser mesquinho

Que com seu ato daninho

Promove a devastação

Porém eu sou diferente

Mato, mas mato somente,

Por carência e precisão.

Eu por ser um camponês

Adoro viver aqui,

Ouvindo e som do chocalho

E o gemer da juriti,

Sem buscar evoluções

Eu preservo as tradições

Dos tempos do meu avô

E assim sem fazer barulho

Eu digo com muito orgulho

“Sou da roça sim sinhô”!

Carlos Aires

05/02/2021