ALEGRIA DE SERTANEJO, É VER SUA TERRA MOLHADA

A seca quando ela chega

O pasto fica doente

Na campina mal se enxerga

Os passos de um vivente

Bicho logo desaparece

A miséria aumenta e cresce

Faz sofrer a nossa gente

Agua não se acha amigo

Os tanques agonizaram

As nuvens do ceu sumiram

Os trovões já se calaram

Os raios á muitas luas

Deixou esperança nuas

Aguadas evaporaram

Leguas e léguas de tristeza

Angustias e desolação

Carros pipas abastecem

Mas é so perto de eleição

E o pobre meu bom senhor

Tem que provar que é votador

Daquela triste região

Patrão vira Coronel

E as vezes chamam de Doutor

Mas no fundo é um canalha

Do povo seu malfeitor

É puxa saco de deputado

Do prefeito é pau mandado

Corja de gente sem valor

Se aproveita da miséria

Da má sorte do miserável

Que depende de esmolas

Pra não ser tão vulnerável

Á morte e aos castigos

Das traições e perigos

Pelo patrão abominável

Juriti sumiu no campo

Bem-ti-vi la no cerrado

Não se ver se quer preá

Na macambira socado

Tudo muda no sertão

De tão seco que é o chão

Até viver é um pecado

Rezar prece e novenas

O povo vive a fazer

Pedindo ajuda do céu

Implorando pra chover

Mas pra testar a sua sorte

Provar que o sertanejo é forte

Isso custa acontecer

O dia já nasce torrando

Sem vento e só o calor

É o que se ver por aqui

Matando e trazendo horror

De se miséria e fome

O pobre que não tem nome

Sabe bem o peso da dor

Tomara que uma banda do céu

Despenque num aguaceiro

Faça encher os açudes

Barroca fonte e barreiro

Espero que chova um ano

Esse sim é o nosso plano

De setembro a fevereiro

Eu hei de ver a açudagem

Transbordando no sertão

Sangrando riachos grandes

Com a força de um tufão

Pra melhorar nossa vida

Trazer o riso e a comida

Pro povo do nosso torrão

Se São Pedro não abrir

As portas do céu pra chover

É melhor que tudo acabe

Antes do amanhecer

Será a melhor recompensa

Fome e seca é pior doença

Então é bem melhor morrer

Nem o 15 de Raquel

Conseguirá mudar o plano

Nem também a vida seca

Escrita por Graciliano

Será capaz de amenizar

A fome no meu lugar

Deste destino tirano

A prece do sertanejo

Como é de se conhecer

Não é pedir luxo nem nada

Ele só quer sobreviver

Quer jogar semente no chão

Ver sua farta plantação

Plantar, limpar e colher

Manda chuva meu bom Deus

Pra amenizar o sofrer

Desse povo que implora

Pelo teu santo poder

matuto só tem felicidade

Quando o tempo fecha de verdade

E despenca o céu a chover

Junto com essa seca leva

O tal do aproveitador

Que chega pra nos humilhar

Diz que tá fazendo favor

Mas tudo isso é cilada

A gente não vale nada

Sem o título de eleitor

Mas um dia eu acredito

Na enxurrada da mudança

Nos trovejos da nossa graça

Essa é a nossa esperança

Desde os tempos de menino

Nesse solo nordestino

Quem espera sempre alcança

Derrama meu pai derrama

Inunda o nosso sertão

Pra que a nossa safra seja

Fartura de milho e feijão

Alimenta o teu povo

Nos dá a graça de novo

De ver mudar a situação

E assim o sonho do sertanejo

Vai cumprindo sua missão

Rezando e fazendo prece

Com a fé que tem no coração

Sonhando acordado pedindo

E no seu Íntimo sentindo

QUE VAI CHOVER NO SERTÃO

CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 24/01/2021
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