Aos Inimigos Ocultos
Aos Inimigos Ocultos
Graças ao Pai eu não tenho inimigos,
Espero que jamais eu venha a tê-los,
Iria arrepiar-me os cabelos,
Em pensar na grandeza dos perigos,
Meus valores são ainda bem antigos,
De não desejar mal para ninguém,
Ao meu coração isto não convém,
Notar um "fio" do cão no prejuízo,
Se lhe doer que seja um dente siso,
Se cair seja pra frente do trem.
Que more num barraco de goteiras,
Que cochile com grilo e muriçocas,
Que se veja numa rede de fofocas,
Que ame duas quengas parideiras,
Que tenha os pés cheios de frieiras,
O barraco que fique no alagado,
Não desejo que morra afogado,
Só se for numa lama movediça,
Que não encontre bóia de cortiça,
Que durma num colchão velho e rasgado.
Furúnculos debaixo do sovaco,
Que as mulheres sejam-lhes traíras,
Ponham-lhe na cabeça só mentiras,
Que só tenha um amigo e mui velhaco,
Pra fazer fogo vá catar cavaco
Na juquira de urtiga e cansansão,
Num toco estrepe um pé e corte a mão,
Terçol esparramado pelos olhos,
Pela cabeça um monte de piolhos,
Só isso… não lhe quero ver mal não!