TEMPOS DE SECA!!!
A desolação assola,
O chão está ressequido,
A fome ninguém controla
Pois só se ouve o vagido!
O campônio acabrunhado
Está sofrendo, coitado,
Sem ter mais o que fazer,
Para evitar o estresse
Olha o céu, reza uma prece,
Pedindo a Deus pra chover.
A campesina procura
No armário atordoada,
Um doce, uma rapadura,
Ali não encontra nada,
A filharada chorando,
Ela fica acalentando,
Mas sabe que é tudo em vão,
A fome ninguém engana,
Já que essa praga tirana
Só tem fim com a refeição.
Para o terreiro ela segue
Buscando uma solução,
Nada por ali consegue
Já não tem mais criação,
Nem um ovo tão somente,
Pois impiedosamente
A seca levou embora,
Sem que encontre uma saída
Imagina: estou perdida!
O que é que faço agora?
Do que criava não tem
Ao menos uma galinha,
O cercado não contém
Nem mesmo aquela cabrinha,
Que tanto colaborava
Pois o leite não faltava
Toda manhã fielmente,
Sua angústia só aumenta
E essa verdade cruenta
Só faz com que se atormente.
Ainda se não bastasse
Encontra outro desafio
Para aumentar o impasse,
O pote já está vazio,
Ela faminta e sedenta
Lastima, chora, lamenta,
Chega a sentir uma ânsia,
Ao lembrar que a rica fonte
Fica na encosta do monte
A uma légua de distância.
Mesmo assim ela coloca
Por sobre a cabeça o pote,
Pelo caminho ela emboca
E faz com que ninguém note,
Sua dor, sua aflição,
É triste a situação
Calada ela se aperreia
Sozinha vai soluçando,
Na vereda caminhando
Já faz uma hora e meia.
Volta cansada, suando,
Com o peso ela tonteia,
Devagar quase parando
Aqui ali cambaleia!
A procura de trabalho
O marido bate o malho
Numa procura incessante,
Não quer sair dessa terra
Nem deixar seu pé-de-serra,
Por temer virar migrante.
Quando a seca se revela
Fica assim nosso sertão,
Tudo estraga e desmantela
Sem dó e sem compaixão,
Pra não deixar seu lugar
Vive o campônio a penar
Naquele seu vilarejo
Implorando a caridade!
Que Deus tenha piedade
Desse povo sertanejo.
Carlos Aires
06/08/2020