NUMA TARDE MELANCÓLICA!!!
Descamba o sol vagaroso
Pras bandas do ocidente,
Sonolento e preguiçoso
A caminho do poente,
Deixando a tarde sombria
Dando sinais de que o dia
Aos poucos já esmorece,
Devagar mas sem atraso
Caminha para o ocaso
Onde se deita e adormece.
Nesse seu lento caminho
Vai mudando a paisagem,
Sossegado de mansinho
No trajeto da viagem,
E como que por brinquedo
Deixa a sombra do rochedo
Completamente alongada,
Numa banal fantasia
Dando um tom de nostalgia
A tarde já enfadada.
Chega um vento brando e frio
Vindo dos lados da serra,
Nesse tempo em que o estio
Predomina em nossa terra,
Logo a acauã entoa
Seu triste canto que ecoa
Nos vales da cordilheira,
O nambu passa vexado,
E o concriz dá o seu trinado
No topo d’uma aroeira.
O carcará voa lento
A procura de comida,
Enquanto o gado sedento
Vai à busca de bebida,
Os insetos voadores
Zanzando por sobre as flores
Sem seguir um rumo certo,
O horizonte em lilás
Denunciando os sinais
Que a noite já está bem perto.
O morcego lá na loca
Se mexendo pra sair,
O preá se desentoca
Vai jantar depois dormir,
Com frio, o timbu se encolhe,
Lagartixa se recolhe
Numa brechinha da rocha,
O céu em marrom glacê
Dá sinais claros de que
Logo a noite desabrocha.
O sol já quase sem brilho
Lentamente desmaiando,
Pois esse eterno andarilho
Está quase agonizando
Já bastante enfraquecido,
Enfadado e combalido,
Esconde-se, vai se aquietar,
Depois de um dia de luta
Põe fim na sua disputa
E agora vai repousar.
A noite joga seu manto
Pelos campos e baixadas,
Nesse momento tão santo
Escutam-se as badaladas
Do sino da capelinha
Que sempre toda tardinha
Frequentemente anuncia
Com o seu som magistral
Dando o mais puro sinal
Que é hora d’Ave Maria.
E assim se foi mais um dia
Cumprindo a sua rotina,
Agora é a calmaria
Noturna quem predomina
O sol agora dormindo
Depois de um dia infindo
Na pradaria bucólica
Foi descansar e enfim
Nesse instante pôs um fim
Numa tarde melancólica.
Carlos Aires
04/08/2020