A VENTANIA!!!
Lembro aquela ventania
Que numa tarde de maio,
Logo após o meio-dia
Já começava o ensaio,
Rajadas de vento forte
Vidas do sul e do norte
Com sua força estrambólica
Chegou sem fazer afago
Causando o maior estrago
Com sua corrente eólica.
Um mandacaru antigo
Entrou nesses desalinhos,
O qual fornecia abrigo
E frutas aos passarinhos,
Não suportou a tormenta
Com a força violenta
Sequer teve uma opção
Pra se defender coitado!
Bruscamente foi jogado
Com fúria por sobre o chão.
As baraúnas copadas
Aroeiras e jucás,
Com as galhas entrelaçadas
E a tempestade vorás,
Pra lhes fazer desafio
Promovia um corrupio
Nas suas vastas ramagens,
Gerando intensos ruídos
Que doía nos ouvidos
E desfigurava as paisagens.
Eram estrondos medonhos
Chega ecoavam na serra,
Talvez, um dos mais bisonhos,
Que já houve em minha terra
Devastando o milharal
Mesmo as roupas do varal
Foram jogadas pra os ares
E entre tantos horrores
Foram as frutas e flores
Derrubadas nos pomares.
Na pelagem das vacadas
Notavam-se os arrepios,
Por não estarem preparadas
Pra esses ventos tão frios,
Nos baixios e outeiros
Viam-se enormes facheiros
Por sobre o solo estendidos
Além de outras árvores belas
Que foram por tais procelas
Tão seriamente atingidos.
Das casas, caibros e telhas,
Foram parar a distância,
Os besouros e as abelhas
Sofreram cos a arrogância,
Desse vento tenebroso,
Até o porco teimoso
Correu procurando abrigo
O cachorro em abandono
Saiu pra perto do dono
Em busca de um ombro amigo.
O velho caramanchão
Que já estava desgastado,
Não suportou a pressão
E foi pelo vento arrastado,
Até mesmo a quixabeira
Forte, garbosa, altaneira,
Teve um desfecho terrível,
Foi brutalmente arrancada
Não suportou a coitada
Essa ventania incrível.
Daquela tarde de vento
Eu jamais esquecerei
Só Deus sabe o desalento
E o transtorno que eu passei,
Pois o sopro insuportável
Foi muito desagradável
E durante a minha existência,
Nem eu e nem nosso povo
Tenha que passar de novo
Pela triste experiência.
Carlos Aires
24/07/2020