CENAS DE UM CREPÚSCULO!!!
Quando o véu da tarde desce
O sol abaixa e esmorece,
Apaga o lume e escurece,
Deixando opaco o horizonte,
Já do lado do levante
A lua surge brilhante
Fazendo naquele instante
Seu majestoso desponte.
O sininho da capela
Que estava de sentinela
Com o toque lento revela
E fielmente anuncia,
Que o dia já foi embora
E que o sertanejo agora
Reze na sagrada hora
Da Santa Virgem Maria.
As estrelas que pontilham
O céu, ora pouco brilham,
Porque não se desvencilham
Da farta luz do luar,
Bacurau vem e corteja
Nossa gente sertaneja
E a mãe-da-lua solfeja
Seu dolente gorjear.
Logo a mulher do roceiro
Acende seu candeeiro
Provocando um fumaceiro
E gerando bem pouca luz,
Cumprindo o hábito diário
Vai até o santuário
Reza um terço do rosário
E faz o sinal da cruz.
O morcego se desloca
De dentro da sua toca
No negrume logo emboca
Vai procurar alimento,
A coruja voa mansa
E o tatu também avança
No intuito de encher a pança
Sai a busca de sustento.
Dos passarinhos calados
Sequer se ouve os trinados
Pois estão agasalhados
Depois da longa jornada,
Nos seus confortáveis ninhos
Aquecendo os filhotinhos
Talvez compondo uns versinhos
Pra cantar de madrugada.
O campesino enfadado
De trabalhar no roçado
Jantou e já está deitado
Pra o descanso merecido,
A mulher inda acordada
Agasalha a filharada
Ao fim dessa caminhada
Deixa o trabalho cumprido.
Aqui termino o relato
Onde esclareço de fato
Nesse modesto retrato
Que mesmo sendo minúsculo,
Foi escrito a duras penas
Mostrando um pouco das cenas
Quando das noites serenas
Dá-se o sublime crepúsculo.
Carlos Aires
23/07/2020