A ROÇA EM NOITES DE LUA CHEIA!!!
Não vejo coisa mais bela
Que um anoitecer na roça!
Quando olhado da janela
Ou do oitão da palhoça
Onde a lua cheia e linda
Sequer despontou ainda
Mas já se avista o clarão
Rompendo o negro horizonte
Que surge por trás do monte
Embelezando o sertão.
Enquanto àquela beldade
Com charme e com galhardia,
Mostra a sua claridade
Prateando a pradaria,
Revelando a cena linda
Farta de beleza infinda
Com encanto e formosura,
Acho até que a natureza
Exagerou na beleza,
No encanto e na ternura.
As estrelas com ciúme
Ficam sonsas e apagadas,
Não querem mostrar seu lume
Por ficarem acanhadas,
Até mesmo a papa-ceia
Que aparece às cinco e meia
Da tarde, muda o horário,
Só brilha de madrugada
Que é quando a lua enfadada
Já se afasta do cenário.
O bacurau no caminho
Vai saltitando com graça,
Um lobo-guará sozinho
Rosnando em tom de ameaça,
O marreco sobrevoa
Baixo, e pousa na lagoa,
A procura de alimento,
E a mãe-da-lua tristonha
Canta uma moda bisonha
Num langoroso lamento.
E as baraúnas copadas
Com o vento lhes dando açoite
Balançam suas galhadas,
Logo no início da noite,
A coruja ao longe pia,
A caipora assobia,
Aparece assombração,
Logo o tatu deixa a toca,
E o morcego sai da loca,
Buscando alimentação.
O campesino contente
Com a cena não se controla,
Senta-se lá no batente
E tocando em sua viola,
Cantarola uma canção,
Assanhando o coração
Da cabocla sua amada,
Que pra matar seus desejos
Dar-lhe dezenas de beijos
Totalmente apaixonada.
Termina a luta o vaqueiro
Vai pra casa descansar,
Pra filha do fazendeiro
Que deseja conquistar,
Solfeja um verso saudoso,
Num tom bem melodioso
Pra cativar a donzela,
Que esperava a homenagem
Olhando pra paisagem
Debruçada na janela.
Então dou por terminado
Mas um poema singelo,
Que fiz com muito cuidado
Para não quebrar o elo,
Da minha união com o mato
Pois gosto de ser de fato
Um matuto de mão cheia,
Na fazenda ou na palhoça!
E assim descrevi a roça
Em noites de lua cheia.
Carlos Aires
09/07/2020