UM BATE-PAPO ENTRE OS BICHOS!!!

Reuniu-se a bicharada

Uma tarde na floresta,

Pra num longo bate-papo

Mostrar que o homem não presta,

Por ser traiçoeiro e mal

Por isso cada animal

Afirmou que lhe detesta.

O macaco assim falou

De maneira inteligente,

O homem vive dizendo

Que de mim é descendente,

Cheirando uma flor de *alpivre

Assim disse: Deus me livre

De tê-lo como parente.

Papagaio disse: eu vivo,

Imitando o ser humano,

Ele me ensinou falar

E eu, entrei pelo cano,

Só vivo desapontado,

Por conta desse malvado

Hoje amargo o desengano.

A ema estava presente

E deu sua opinião,

Disse: o homem é o causador

Da grande devastação

Vive incendiando a mata

E essa atitude ingrata

Só causa desolação.

O avestruz disse: eu penso

Que o homem não tem pensar,

Pois se tivesse pensava

Bem antes de derrubar

A árvore frondosa e bela,

Pois ao eliminar ela

Fruto e sombra irão faltar.

Ticaca disse ele sabe

Que comigo é diferente,

Caso venha me agredir

Com o seu instinto inclemente,

Libero um gás fedorento

Ele grita: eu não aguento

E foge pela tangente.

Também o camaleão

Falou desembaraçado,

Se o homem me pegar

Eu já sei que estou lascado,

Mata-me e leva pra casa

Assa num fogão de brasa

Ou então viro guisado.

O nambu chegou dizendo

Eu detesto o ser humano,

Pois ele sem piedade

Aplica um golpe tirano,

Numa atitude sem graça

Extermina a nossa raça

Cometendo um ato insano.

A rolinha também disse

Esse sujeito é mesquinho!

Sem cogitar sai matando

Quem encontrar no caminho

Com os seus maléficos dotes

Deu um fim aos meus filhotes

E destruiu o meu ninho.

O peixe no lago ao lado

Também entrou nesse rol,

Dizendo o homem chegou

Em uma manhã de sol

Pegou-me desprevenido

Por ele fui iludido

E me ferrei no anzol.

A raposa entristecida

Disse assim: esse elemento,

Só vive me perseguindo

Não suporto esse tormento,

Oh! Que viver de amargura,

Acho que a tal criatura

Não tem nenhum sentimento.

O peru chegou dizendo

Que ao homem também detesta,

Falou assim: desaprovo

Sua atitude funesta,

Ceva e até bem me trata,

Mas cruelmente me mata

Um dia antes da festa.

O porco disse: eu nem quero

Lembrar-me do desgraçado,

Ele oferece comida

Deixa-me bem saciado

Depois, sequer pestaneja,

Mata esfola e esquarteja

E vende a carne no mercado.

O leão veio apressado

Lá da distante savana,

E disse assim: Desaprovo

Qualquer atitude humana,

Por serem muito insensatos,

Perversos, cruéis, ingratos,

Eita! Que raça tirana.

A abelha disse: eu não gosto

Do humano esse infiel,

Depois de tanto trabalho

Meu e de todo plantel

Ele vem com sua ideia

Põe fumaça na colmeia

Abre, invade e rouba o mel.

A arara revoltada

Taxa o homem de vilão

Diz: ele invade a floresta

Com rede ou com alçapão,

Sai colocando armadilha

Ao longo da sua trilha

Por ganância e ambição.

O urubu afirmou:

Ele age por cobiça,

Não gosta de trabalhar

É a cara da preguiça,

Eu que não sou desse jeito

Vivo alegre e satisfeito

Só degustando carniça.

O coelho disse: só durmo

De olhos abertos na toca,

Porque se o homem malvado

Com a sua lente me enfoca,

Sem pensar esse inclemente

Vai me atingir mortalmente

Com um tiro de *soca-soca.

O tamanduá nervoso

Quase entra em desespero,

Afirma que o bicho homem

É ordinário e fuleiro

Por nada vai me matando

E eu só vivo lhe ajudando

A por fim no cupinzeiro.

O jumento também disse

Não quero fazer agravo,

Pelo tanto que trabalho

Sem receber um centavo!

O meu serviço é pesado

Mas mesmo assim sou taxado

Pelo homem como escravo.

O elefante ao chegar

Disse o humano é ruim,

Quando adentra na savana

Parte pra cima de mim,

Não hesita em me matar

Somente para roubar

Minhas presas de marfim.

A girafa também disse:

É assassino e homicida

Esse tal de ser humano

Não passa de um latrocida

Mata por divertimento

Sequer hesita um momento

Antes de roubar a vida.

E assim a bicharada

Pôs fim na reunião,

E por unanimidade

Chegaram a conclusão,

Assinando um documento

Afirmando em cem por cento

Que o homem não presta não.

Enfim narrei a palestra

Da bicharada em cordel,

Não passa de ficção

Mas de maneira fiel

Aqui deixei meu relato

Ao esclarecer o fato

Cumpri bem o meu papel.

*Alpivre: planta silvestre também conhecida por "flor das abelhas"Soca-*Soca-soca: Espingarda antiga usada pelo homem do campo.

Carlos Aires

07/07/2020