UMA AURORA SERTANEJA!!!

Como era bela a aurora

Nos campos do meu sertão!

Quem como eu rememora

Chega a chorar de emoção,

Um belo sol despontava

E pouco a pouco espalhava

Seus raios pela campina,

E a serra quase escondida

Ainda estava envolvida

Com seu lençol de neblina.

O vaqueiro levantava

E seguia para o curral,

Toda vacada ordenhava

Cumprindo seu ritual,

O lavrador bem cedinho

Seguia o mesmo caminho

Que lhe levava ao roçado,

A lavoura prosperava

E assim ele já contava

Com o lucro assegurado.

A campesina contente

Acendia seu fogão,

De lenha, pra certamente,

Depois cozinhar feijão,

Antes, fazia o café,

E com a velha quicé

Descascava macaxeira

E cortava o jerimum,

Para quebrar o jejum

Nessa refeição primeira.

Bem cedo abria o chiqueiro

E a galinhada soltava,

Que corria pra o terreiro

Onde o milho ela jogava,

Depois pra casa seguia

E como sempre fazia

Preparava um bom cuscuz

Pra comer com leite quente,

E pela fartura abrangente

Agradecia a Jesus.

As borboletas passavam

Ronceiras buscando as flores,

Que no campo já formavam

Um jardim em multicores,

Onde a santa natureza

Exagerou na beleza

Adornando a região

Porém sem fazer acinte,

Só para dar mais requinte

A uma manhã de verão.

Na várzea, aquela euforia,

Dos passarinhos contentes,

Logo no raiar do dia

Iam lá colher sementes

Nos pendões do capinzal,

Ao longe no matagal

Uma acauã agoureira,

Com muito discernimento

Declamava seu lamento

No cume de uma aroeira.

As abelhas se acordavam

E saiam do seu cortiço,

E os campos sobrevoavam

Pra honrar seu compromisso,

Naquele agradável clima

Buscavam matéria prima

Pelas ervas do vergel

Colhendo o néctar das flores

Pra que daqueles primores

Surgisse o mais puro mel.

Só quem nasceu no sertão

Nos cafundós das entranhas,

Faz uma dissertação

Completa dessas façanhas,

Pois quem nasce na cidade

Desconhece essa beldade,

Mas se por acaso almeja

Conhecer esse recanto,

Vem desfrutar do encanto

De uma aurora sertaneja!

Carlos Aires

06/07/2020