A TENTAÇÃO DO CANDIDATO E O MATUTO DESENROLADO!!!

Eu sou um matuto broco

Sem instrução, sem leitura,

Criei-me arrancando toco

Com chibanca em terra dura,

Tirando ração pra o gado,

Cuidando do meu roçado

Pois aqui me sinto bem!

Vivo colhendo o que planto

Bem quietinho no meu canto

Sem dever nada a ninguém.

Levo a vida sossegada

Do nascer ao pôr-do-sol,

No final da madrugada

Contemplando o arrebol

E escutando a serenata

Que vem da orquestra nata

Do palco da natureza,

Agradeço orando a Deus

Por poder nos dias meus

Desfrutar dessa riqueza.

Eu vivo alegre demais

Morando no meu ranchinho,

No meio dos carrascais

Escutando os passarinhos

Cantando as modas nativas,

Olhando pras cores vivas

Do campo com seu matiz,

Aqui é o meu paraíso

Pois tem tudo que preciso

Pra que viva bem feliz.

Aqui não se justifica

Transtorno, aperreação,

Porque nessa terra rica

Não tem inquietação,

A tranquilidade é tanta

Que até quando o galo canta

Na madrugada serena

A gente sente prazer,

Dá gosto de se viver

Em felicidade plena.

Mas, mesmo nesse sossego,

Que a paz de Deus apresenta,

Logo o “demo” pega arrego

Nessa calma, e nos atenta!

Vem chegando sorrateiro

Parece um bom cavalheiro

Repleto de boa ação,

Porém, tudo é falsidade,

Pois a fingida bondade

Só são laços de traição.

E essa história inteirinha

Eu vou contar pra vocês!

Um dia, de manhãzinha,

Quase no final do mês,

Eu estava todo ancho

Bem pertinho do meu rancho

Na sombra de um juazeiro,

Quando chegou um “carrão”

E parou bem no oitão

No aceiro do terreiro.

Desceu um homem decente

Bem vestido, bem tratado,

Com aparência excelente

Dirigiu-se pra o meu lado,

E com muita educação

Apertou a minha mão

E disse assim: por favor,

Caso esteja disponível,

Eu queria se possível

Conversar com o senhor.

Eu lhe respondi: pois não,

Pode dizer o que quer!

Pois estou de prontidão

Pra lhe ajudar se puder,

Mas, fiquei “com um pé atrás”!

Pois vi naquele rapaz

Um “lobo em pele de ovelha”,

E por ser desconfiado

Fiquei alerta, antenado,

Com “a pulga atrás da orelha”.

Ele então olhou pra mim

Deu um suspiro profundo

E foi me dizendo assim:

Isso aqui é o fim do mundo!

Como consegue viver

Sem escola, sem lazer,

Sem nenhuma diversão?

No desprezo, no maltrato,

Igual a um bicho do mato,

Nessa intensa isolação?

Eu vim pra lhe auxiliar

A sair dessa “enxovia”,

E já passo a planejar

Uma ampla melhoria,

A começar pela casa

Cuja ideia se embasa

Numa construção moderna,

Também se inclui nesse plano

Um bom poço artesiano

A luz elétrica e a cisterna.

Um campo de futebol

Pra moçada jogar bola,

E penso em agir em prol

Pra que se erga uma escola,

E vou tomar providência

Para em regime de urgência

Ser construída uma estrada,

Incluso nessa atitude

Está um posto de saúde

Pra atender a matutada.

Para colocar em prática

Cada ideia em expansão,

E vou lhe explicar a tática

Por favor, preste atenção!

É que eu estou candidato

Pra ser prefeito, e de fato,

Se acaso eu eleito for,

Assumo esse compromisso

De construir tudo isso

Que prometi pra o senhor.

Meu nome é “José Pinheiro”,

Vou ser franco ao lhe avisar

Não penso em ganhar dinheiro

Pois meu lema é trabalhar!

E logo que passe o pleito

Se eu conseguir ser eleito

Já pode contar comigo

No avanço, no progresso!

É por isso que lhe peço

Vote em mim meu grande amigo!

O diabo pode não vir

Mas, envia um secretário,

Para enganar, iludir,

Fazer o povo de otário

Se esse matuto aloprado

Não fosse desenrolado

Ou mesmo astuto o bastante

Muito esperto e destemido

Decerto tinha caído

Na lábia do meliante.

Essa conversa ilusória

Não convenceu o campônio

Que viu em toda essa história

A tentação do demônio

E respondeu: candidato!

O senhor é o retrato

Fiel da deslealdade,

Eu posso está sendo crítico

Mas vejo em cada político

A cara da falsidade.

É bom pensar desde já

Pra que em cada eleição,

Não caia no “blá, blá, blá”,

De político fanfarrão,

Tem que ser bastante astuto

Assim como esse matuto

Que não caiu na cilada

De um candidato vilão

Cheio de “boa intenção”,

Mas, que não valia nada.

Carlos Aires

29/01/2020