NUM SÓ BRASIL, “DOIS BRASIS” O DE CÁ E O DE LÁ!!!

O nosso Brasil possui

Dimensões continentais,

Mas, os bens são divididos,

Em proporções desiguais

De um lado a elite nobre

Que dispõe de ouro e “cobre”

Não tem do que reclamar!

Usa perfume francês,

E com o vinho português

Degusta um bom caviar.

Do outro lado a pobreza

“Rala” pra sobreviver!

E rende graças a Deus

Quando arranja o que comer,

Paga caro a condução,

Só come arroz com feijão,

Macaxeira, mungunzá,

Salame, cachorro-quente!

Esse o Brasil da gente

Daqui, do lado de cá!

A vida é bem diferente

Do que vive no outro lado,

Que veste roupas de marca,

Passeia em carro importado,

Desfruta do privilégio

De estudar em bom colégio.

Se acaso acomete um mal

Que venha a lhe incomodar?

Vai depressa se tratar

No mais pomposo hospital.

Do lado de cá a vida

É dura, e não tem padrão,

Que estabeleça uma norma

Mínima, pra que o cidadão,

Sinta um breve refrigério.

Se, adoece, o caso é sério,

Tem que apelar pra Jesus

Pra que venha o socorrer,

Porque senão vai morrer

Na espera pelo SUS.

Só tem do lado de lá

Promotor, advogado,

Prefeito, vereador,

Governadores de estado,

Deputados, senadores,

Além dos grandes gestores

Que mandam nessa nação,

Cheios de pompas e brilhos

Já vão preparando os filhos

Pra dar continuação.

Porém do lado de cá,

Está o trabalhador,

Que de fato é quem faz tudo

Mas ninguém lhe dá valor,

Não passa de um empregado

Que vive subjugado

Sob as ordens do patrão,

Com vida boa, nem sonha,

De tão pouca faz vergonha

Sua remuneração.

Mas é do lado de lá

Que está a força motriz!

Pois são eles que decidem

Sobre os rumos país,

Tem político mercenário

Que “assalta” o nosso erário

De modo amplo, irrestrito,

E se alguém denunciar?

Nada vai adiantar

Fica o dito por não dito.

Do lado de cá a vida

É um real desafio!

O pobre desalojado

Passa fome, sede e frio,

Pede um pão, lhe é negado,

Sem ter dinheiro, o coitado,

Rouba um quilo de feijão,

Com essa atitude feia

Vai amargar na cadeia

Dez anos de reclusão.

O dinheiro do de lá

Vai muito além do provento!

Acharam mais de cinquenta

Milhões num apartamento!

Numa ganância voraz

O rombo da Petrobras

Quase que quebra a nação!

E teve um tal de Rodrigo

Que na mala pra um amigo

Levava meio milhão.

Aqui do lado de cá

É outra a realidade!

O pobre cria seus filhos

Com baixa escolaridade,

Falta leito em hospitais

A insegurança é demais

Não se faz investimento,

E o que mora lá no morro

Sem que lhe prestem socorro

Morrem num deslizamento.

Mas, o do lado de lá,

Sequer fica apoquentado!

Habita um prédio bonito

Num condomínio fechado,

No trigésimo quinto andar,

Respirando o puro ar

Sem conter poluição

Na tranquila cobertura

Vive de forma segura

A muitos metros do chão.

E nós do lado de cá,

Moramos numa favela,

Num terreno alagadiço,

Num beco ou numa viela,

Naqueles dias nublados

Ficamos preocupados

Sem ter pra quem apelar,

Quando a tragédia acontece

É que o gestor aparece

Só pra se justificar.

E diz: esse povo pobre,

Que invade esse lugar

E por aqui fica erguendo

Construção irregular

Sem ter planta e nem projeto

Sem aval de um arquiteto

Nem visto de um engenheiro

Faz uma obra insegura,

Depois culpa a prefeitura

Pelo trabalho fuleiro.

Que nós do lado de cá

Não tem valor, isso eu noto,

Pois só somos procurados

Na hora que o nosso voto

Vai servir de pedestal

Para o “fulano de tal”

Ganhar dinheiro e poder!

Quando são favorecidos

Logo somos esquecidos

Sequer vêm agradecer.

Vocês do lado de lá

Negam os nossos valores,

Porém eu tenho um alerta

Para fazer aos senhores

A água sem impureza

O pão farto em sua mesa

É a plebe quem lhe traz,

Então, não nos desmereça,

Pense um pouco e reconheça

O bem que a gente lhe faz.

Eu faço parte da plebe

E vivo muito contente,

Gosto de falar “prumode”

“Pruque” “pruvia” e “oxente”,

Candeeiro é a minha luz,

Gosto de comer cuscuz

Angu de milho e xerém,

Fava com ovo e jabá,

E é nesse lado de cá

Que me sinto muito bem!

Carlos Aires

26/01/2020