FOLHETO DE MOTES & GLOSAS

FOLHETO DE GLOSAS EM CORDEL

LITERATURA DE CORDEL

Autor: Bob Motta

M O T E S

&

G L O S A S

NATAL-RN

2007

SÍNTESE EXPLICATIVA SOBRE A GLOSA

Glosa – Composição poética para desenvolvimento de um mote

dado e/ou sugerido.

A glosa é uma composição de dez versos; que podem ser de sete (setessilábicos) ou dez (decassilábicos) sílabas poéticas; e tem dois estilos.

Glosa Clássica – Nesse estilo, o primeiro verso do mote

é o quarto verso da décima; e o segundo

verso do mote é o décimo verso da

décima.

Glosa Popular – No Popular, os dois versos do mote são

os dois últimos versos da décima.

Obs. Quando o mote; tema; é de um verso só, esse verso

deverá ser o último verso da décima. Mas, hoje em

dia, é uma raridade o mote de um verso só.

Mote – Tema dado, sugerido ou proposto para ser glosado; ou

seja; desenvolvido pelo poeta glosador.

M O T E

VOU FUMANDO O CIGARRO DA SAUDADE

E A FUMAÇA ESCREVENDO O NOME DELA

G L O S A

Levo a vida cantando a natureza,

escrevendo, feliz, os versos meus.

Entregando minh’alma para Deus,

adorando-o, também, sem sutileza.

E no amor, você pode ter certeza,

faço versos prá moça da janela.

Vou pintando seu rosto em aquarela,

pico fumo de rolo e com vontade,

VOU FUMANDO O CIGARRO DA SAAUDADE,

E A FUMAÇA ESCREVENDO O NOME DELA...

Obs.- Mote dado no encontro de capacitação dos professores da Rede Estadual de Ensino, no Natal Mar Hotel, em 2003.

M O T E

O MUNDO SÓ VEIO PRESTAR

DEPOIS QUE EU NÃO PRESTO MAIS...

G L O S A

No tempo em que eu era novo,

era ruim de namorar.

Era só bilhete e olhar;

era difícil; era osso.

Hoje, porém, é um colosso,

para a moça e p’ro rapaz.

Que dão boa noite aos pais,

se trancam e vão se deitar;

O MUNDO SÓ VEIO PRESTAR,

DEPOIS QUE EU NÃO PRESTO MAIS...

Obs. Mote dado pelo poeta Zé Saldanha; glosa de Bob Motta.

M O T E

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE

NEM QUE FOSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

G L O S A

Na poesia, dou sempre meu recado,

mas meu verso não é feito de repente.

Entretanto, retrata fielmente,

a saudade que eu sinto do passado.

Dou valor ao verso bem rimado,

meu poema é feito no coração.

Quando toma a forma de canção,

lacrimejo na dor de uma saudade,

SE EU PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE,

NEM QUE FOSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.

Obs. Mote dado no encontro de capacitação dos professores da Rede Estadual de Ensino, no Natal Mar Hotel, em 2003.

M O T E

A PALAVRA TEZÃO SÓ ESCANDALIZA

QUEM NÃO TEM NESSA VIDA MAIS TEZÃO.

G L O S A

Ademar, no começo desse ano,

no meu verso, lhe dei uma explicação.

E lhe digo, meu poeta, que tezão,

quer dizer, vontade ou ímpeto, meu mano.

Para as críticas dos falsos puritanos,

nota zero, sem qualquer contemplação.

E lhe juro que a palavra em questão,

não me falha na hora mais precisa,

A PALAVRA TEZÃO SÓ ESCANDALIZA,

QUEM NÃO TEM NESSA VIDA MAIS TEZÃO...

Obs. Mote:Resposta do poeta Bob Motta, ao poeta Ademar Macedo.

T E M A

NÃO DEIXE O CORDEL MORRER

G L O S A S

1. Sinto minha hora chegando,

e juro nos versos meus:

Se é a vontade de Deus,

é bom ir me acostumando.

Assim, me conscientizando,

quero um pedido fazer.

E se acaso eu merecer,

a sua honrosa atenção,

cordelista, meu irmão,

NÃO DEIXE O CORDEL MORRER!...

2. Sei que gostas de brincar,

e que não ligas prá nada.

Mas fazes versos prá amada,

e adoras declamar.

Podes beber e farrar,

isso, até não mais querer.

Podes até esquecer,

todos os amigos teus,

porém, pelo amor de Deus,

NÃO DEIXE O CORDEL MORRER!...

Obs. Tema dado pelo poeta e cordelista José Saldanha.

M O T E

O CHOCALHO DA SAUDADE

BADALA EM MEU CORAÇÃO.

G L O S A S

Clássica: Mesmo a morar na cidade,

fecho os olhos prá escutar,

e ainda ouço tocar,

O CHOCALHO DA SAUDADE.

Que na minha mocidade,

eu muito ouví no sertão.

Mas hoje, a recordação,

me faz chorar, no momento,

que lembro que esse instrumento,

BADALA EM MEU CORAÇÃO...

Popular: Sendo nascido na praia,

criado no Carirí,

relembro, saudoso, aqui,

que sempre amei a gandáia.

O levantar de uma saia,

no claro ou na escuridão,

sempre me encheu de tezão,

é a mais pura verdade,

O CHOCALHO DA SAUDADE,

BADALA EM MEU CORAÇÃO...

M O T E

O TEU BEIJO É MAIS DOCE, PODE CRER,

QUE A QUIXABA MAIS DOCE DO SERTÃO...

G L O S A S

Clássica: Minha amada, aqui vou lhe dizer,

muitas frutas, na vida, já provei.

E daquelas que mais me delicei,

O TEU BEIJO É MAIS DOCE, PODE CRER.

Pelo canto da boca a escorrer,

dessas frutas, o suco em profusão,

muitas limpei nas castas das mãos,

satisfeito e mui feliz da vida,

mas, tua boca, é mais doce, minha querida,

QUE A QUIXABA MAIS DOCE DO SERTÃO...

Popular: Todo tipo de doce degustei,

cada um, mais que o outro, saboroso.

De aroma e gosto maravilhoso,

na volúpia da gula eu embarquei.

Mas de todos, o que mais apreciei,

não foi de nenhuma fruta; não foi não.

Foi um beijo, numa noite de São João,

que na boca viestes me oferecer,

O TEU BEIJO É MAIS DOCE, PODE CRER,

QUE A QUIXABA MAIS DOCE DO SERTÃO...

M O T E

O MEU CARRO DE BOI É UM ARTISTA

A CANTAR NAS ESTRADAS DO SERTÃO

G L O S A S

Clássica: Lhe convido, doutor, prá que assista,

na caatinga, um evento singular.

Venha um meio de transporte, ver cantar,

O MEU CARRO DE BOI É UM ARTISTA.

O senhor pode passar em revista,

é de graça, a sua apresentação.

O carvão com o sebo, entre o cocão,

e o eixo, faz toada de verdade,

e chorar, o poeta, com saudade,

A CANTAR NAS ESTRADAS DO SERTÃO...

Popular: No sertão do meu Carirí sedento,

os cocões do meu carro, fazem côro.

Soltam feito, menino, em pleno chôro,

um gemido, uma espécie de lamento.

Ou maneiro, no solo poeirento,

carregado de lenha ou de carvão,

com os bois lhe arrastando em lentidão,

palmo a palmo, o caminho, êle conquista,

O MEU CARRO DE BOI É UM ARTISTA,

A CANTAR NAS ESTRADAS DO SERTÃO...

M O T E

QUER SABER QUANTO CUSTA UMA SAUDADE ?

TENHA AMOR, QUEIRA BEM E VIVA AUSENTE!...

G L O S A S

1. Zé Limeira: Zé Limeira é meu nome do amor santo,

pinga fogo, cabôco do Tauá,

papagaio, cantiga de embuá,

papa vento e cristão por todo canto.

Casamento, tacacá, salamanto,

carnaval, muçambê e Tiradentes.

Um macaco, um Prefeito, dois Tenentes,

quatro bode, um fuzil, mais a metade,

QUER SABER QUANTO CUSTA UMA SAUDADE ?

TENHA AMOR, QUEIRA BEM E VIVA AUSENTE!...

2. Bob Motta: A saudade que eu sinto de você,

nos meus versos, eu quero comparar,

com um homem, sozinho, a caminhar,

sem destino, vontade nem porquê.

Ao andar, fecha os olhos e lhe vê,

por você, escreve versos, chora e sente.

Com certeza, faltou água na semente,

ou você o desprezou só por vaidade,

QUER SABER QUANTO CUSTA UMA SAUDADE ?

TENHA AMOR, QUEIRA BEM E VIVA AUSENTE!...

Obs.- Mote dado a Zé Limeira, o Poeta do Absurdo, numa cantoria pelos idos de 1952. Transcrevo na íntegra a sua glosa e usei a liberdade poética para compor a minha; do mesmo mote.

M O T E

QUANTO MAIS PENSO QUI SEI

MAIS EU PRECISO APRENDÊ...

G L O S A S

Clássica: Cum o insino eu me inganei!

A vida mêrmo me diz,

qui sô um eterno aprindiz,

QUANTO MAIS PENSO QUI SEI.

Muntos ano eu istudei,

dispôi qui aprindí a lê.

Na verdade, pode crê,

Quando penso qui tô pronto,

aí é qui eu vejo, tonto,

MAIS EU PRECISO APRENDÊ...

Popular: Tive no jardim da infânça,

decorei a tabuada,

subi uis degrau da iscada,

do meu tempo de criança.

Tinha no peito a isperança,

de me fóimá, pode crê.

Li a carta do ABC,

e vi, quando me fôimei,

QUANTO MAIS PENSO QUI SEI,

MAIS EU PRECISO APRENDÊ...

Obs. Vocábulos grafados na linguagem do matuto nordestino.

M O T E

PIOR QUE O PESO DA IDADE

É A TERRA EM CIMA DA GENTE...

G L O S A S

Clássica: Tem uma coisa, em verdade,

eu cheguei à conclusão,

que é, mesmo para o ancião,

PIOR QUE O PESO DA IDADE.

A triste realidade,

nos vem mostrar claramente,

que a idade é peso inclemente,

que não tem na meninice,

mas, bem pior que a velhice,

É A TERRA EM CIMA DA GENTE...

Popular: Quem está quase de partida,

para a viagem do além,

sem temer nada ou ninguém,

sofre com o fardo da vida.

Sem parar nessa corrida,

muito cansaço, êle sente.

No seu verso, de repente,

diz uma triste verdade,

PIOR QUE O PESO DA IDADE,

É A TERRA EM CIMA DA GENTE...

Obs. Mote dado pelo poeta Zé Saldanha, para ser glosado por Bob Motta.

M O T E

QUERO EM TEU COLO MEU NINHO

PRÁ ADORMECER E SONHAR

G L O S A S

Clássica: Com forração de carinho,

compreensão e prazer,

aconchego e bem querer,

QUERO EM TEU COLO MEU NINHO.

Vou chegando, de fininho,

nêle, feliz, vou deitar,

tuas mãos vão me afagar,

e alí, eu vou, muito vivo,

dar um suspiro, passivo,

PRÁ ADORMECER E SONHAR.

Popular: Minha amada companheira,

pode escrever que é verdade.

Na escala de prioridades,

prá mim, tu és a primeira.

És enxerida, és faceira,

és minha canção de ninar,

porto para eu ancorar,

um Titanic em carinho,

QUERO EM TEU COLO MEU NINHO,

PRÁ ADORMECER E SONHAR.

Autor: Roberto Coutinho da Motta

Pseudônimo Literário: Bob Motta

Da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte

Da União Brasileira de Trovadores – UBT – RN

Do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte

Da Comissão Norte-Riograndense de Folclore

Da União dos Cordelistas do Rio Grande do Norte – UNICODERN

Da Associação dos Poetas Populares do Rio Grande do Norte

Do Instituto Histórico e Geográfico do Cariry-PB

Telefone:(0XX84) 9965-6080

E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br

Site: www.bobmottapoeta.com.br

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 07/10/2007
Código do texto: T684768
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