VIAJANDO COM JÚLIO PRÊTO
VIAJANDO COM JÚLIO PRÊTO
Literatura de Cordel
Roberto Coutinho da Motta
( Bob Motta )
N A T A L – R N
2 0 0 7
Júlio Preto é um meu cumpade,
êis vaquêro do meu pai.
Imaginei uma istóra,
sôbre o negão, e aí vai.
Êle é pessoa querida,
foi meu professor de vida,
da memória num me sai.
Iscrevendo sôbre êle,
chêíin de emoção eu tô.
Posso dizê qui no mato,
foi êle quem me criô.
Na tristeza ô na alegria,
tudo qui é de milacria,
esse cabra me insinô.
Meus fíi tem nêle um avô,
de tanto bem qui lhe qué.
Eu quero êle cumo um pai,
acredite se quisé.
Jamais me dexô sózíin,
lá in casa, tem meu caríin,
tombém da minha muié.
Você pode fazê fé,
nisso qui eu vô lhe dizê.
Todo tipo de presépe,
eu vi o nêgão fazê.
Sua muié Mariquinha,
brigava quando êle vinha,
in caríin, se derretê.
Dizia logo: Você,
me ingana a todo momento.
Andando puros forró,
mais Bob, esse ôto nojento;
prá furrupiá, se arruma,
toma bãe e se prefuma,
mode vendê inxirimento.
Era um divirtimento,
prá mim, a arenga duis dois.
Iscundido atráis d’um prato,
de fêjão, farinha e arroz;
Júlio Preto a gargaiá,
dizia: Quando eu vortá,
nóis cunversa, só nóis dois.
E eu mais êle, adispôi,
arrumado, todo ancho,
se danava p’ro forró,
sem intrave nem ingancho.
Brincando, fazendo tróça,
lá na Maiáda de Roça,
na latada do véi Chancho.
Mais o maió duis ingancho,
era quando se findava,
o forró, já de menhã,
na hora qui nóis vortava.
Pois Júlio Prêto, sacana,
apaipando Luciana,
mato a dento, se danava.
A mundiça gargaiáva,
cum a gaitada do infeliz.
Qui vortava prá istrada,
de “cara lisa” e feliz.
Dispôi de tê se saciado,
e o tezão, discarregado,
no "xiníin" da miritriz.
E eu, simpres aprindiz,
cum aquilo, me deliciava.
Cum uis presépe de Júlio,
qui ali, deitava e rolava.
E ria cum a pobrezinha,
da sardosa Mariquinha,
se ela, cum Júlio, brigava.
Mais o peste nem ligava,
p’ráis briga de Mariquinha.
Êle a discuti mais ela,
e eu calado, na minha.
Lá no fundo, eu já sabia,
qui o negão s’iscapulia,
pura porta da cunzinha.
Meu pai, cunfiança tinha,
nêsse mestre e me intregava.
Sabia qui in boas mão,
cum certeza eu me incontrava.
Júlio, pessoa querida,
preciosas lições de vida,
todos uis dias, me dava.
Quando papai ajuntava,
nais festa de apartação,
meio mundo de vaquêro,
era grande a animação.
Meus leitô, juro a vocêis,
qui eu me sintia um rêis,
mais meu pai, o véio João.
Num era o fíi do patrão,
eu, no têrmo mais isato.
Era pião qui nem êles,
de derêito e de fato.
Pois fui, na realidade,
nascido lá na cidade,
criado dento do mato.
Cum êsse mêrmo Júlio Prêto,
fiz um fuzuê profundo.
Na minha imaginação,
de repente, num sigundo;
"dei de garra" do nêgão,
butei dento d’um aivião,
e se danemo no mundo.
Premêro no Bandêrante,
de Campina prá Natá.
O peste trimía tanto;
num parava de rezá.
O aivião balançando,
e o cumpade recramando:
Á infiliz prá sartá!
Quando cheguemo in Natá,
cheguemo pisando in brasa.
Júlio, vamo tumá uma;
é ligêro; num atraza.
E inchemo nossos caneco,
no baicão véi d’um buteco,
bem pertíin de minha casa.
Adispôi eu dixe: Júlio,
tu vai vê qui coisa boa.
Vamo num aivião duis grande,
c’umas duzentas pessoa;
prá São Paulo, cunhincê,
se divirtí prá valê,
lá na terra da garôa.
Êle dixe: Apôis tá certo!
Nossos causo, lá eu conto.
De tanto andá de aivião,
o nêgo véi fica tonto.
Digo mais, de peito aberto:
Prá onde cumpade Roberto,
quisé me leva, tô pronto.
No tá do sete trêis sete,
imbaiquemo no ôto dia.
Meu cumpade era surrindo,
feliz, in si, num cabia.
Nessa nossa epopéia,
cheguemo na Paulicéia,
pôquíin antes de mêi dia.
Mode isquentá ais zurêia,
assim qui disimbaiquemo,
peguemo nossa bagage,
num buteco se abanquemo.
E cum uis dente dando istralo,
dois ô trêis “rabo de galo”,
cada um de nóis dois, tumemo.
De táxi, fumo p’ro hoté,
e eu calado, na minha.
À ispera duis presépe,
qui cum certeza inda vinha.
Na porta do hoté, o nêgão,
quando foi butando a mão,
a danada abriu sòzinha.
O sacana interrô uis pé,
parecia um pordo brabo.
Vortô, a porta fechô-se,
de surrí, quage me acabo.
E Júlio, cirimunhôso,
qui nem jumento manhôso,
qui entre ais perna, isconde o rabo.
Mode entra no alevadô,
êle já mais disarnado,
já mangava dêle mêrmo,
mode o qui tinha passado.
Sem liga p’ráis gaiofança,
in neu, tinha cunfiança,
e eu tava ali, do seu lado.
E assim foi nuis restorante,
nais fêra, cumércio, praça,
nuis forró, pagode, samba,
e nóis dois; pegue cachaça.
Eu, meus verso, decramando,
Júlio, seus causo, contando,
e o povão, achando graça.
Vimo ais quenga fazê ponto,
lá no pátio da Igreja,
de lá da Rangel Pestana,
no Brás, na triste peleja.
Tivemo, digo a vocêis,
mais Edílson e mais Rui Rêis,
lá no Manhã Sertaneja.
Fumo lá no Butantã,
vê ais cobra pirigosa.
Júlio, só felicidade,
e eu, ricitando glosa.
Andemo mais um pôquíin,
e abracemo cum caríin,
o amigão, Ciro Pedroza.
Cum Assis Ângelo, tombém,
um sinhô cabra da peste,
cunversemo in seu programa,
prá norte, sul, leste e oeste.
Êle é lutadô dimais,
puras raíz curturais,
do nosso amado nordeste.
Tivemo no Embú dais Arte,
mais Zé de Souza, inhô sim.
In sua casa, lanchemo,
bolo, café e aifiníin.
Antes, passemo in Cotia,
e abracemo cum alegria,
o seu Rolando Boldrin.
Fumo no Canto da Ema,
lá no bairro de Pinhêro.
Mais o Arleno Farias,
meu amigo e cumpanhêro.
Mais o Trio Virgulino,
me apresentei, seu minino,
apraudido o tempo intêro.
Adonde nóis dois passemo,
só ispaiémo alegria.
Peguemo o aivião de vorta,
adispôi de uns cinco dia.
Inda alevantemo pó,
num animado forró,
no Brás, na Celso Garcia.
Assim foi minha viage,
mais Júlio, no aivião.
Um cabra bom, de torá,
meu amigo, mestre e irmão.
De quem eu sô aprindiz,
mais eu, preséiva ais raíz,
do meu amado sertão...
Autor: Roberto Coutinho da Motta
Pseudônimo Literário: Bob Motta
Da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte
Da União Brasileira de Trovadores-UBT-RN
Do Instituto Histórico e Geográfico do Rio G. do Norte
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