Décimas de Cordel (Obedecendo a Motes)
Décimas de Cordel
I
Acordo ainda com medo
De arrepiados cabelos,
Cativo de pesadelos,
Mas mantenho-os em segredo.
Na estrada me ponho cedo,
Pés ligeiros, vou calado
Em meu viver desgarrado.
E para obter livramento
Pus no mar do esquecimento
As coisas do meu passado.
II
Tinha nos tempos de antanho
Liberdade vigiada,
Toda imprensa amordaçada
E pensamento tacanho;
Foi dum sofrer sem tamanho.
Ver povo manietado,
De coração embargado
Com choro, dor e lamento,
Pus no mar do esquecimento
As coisas do meu passado.
III
Sempre ouvi que o sertanejo
É antes de tudo um forte,
Não teme a lida ou a sorte.
De espírito benfazejo,
Tem, no bem, o seu ensejo,
Guerreiro no proceder,
Não discrimina outro ser
E leva assim seu destino.
Não conheço um nordestino
Que se envergonhe de ser.
IV
Paulista há de se orgulhar
De seu estado campeão,
Sendo o motor da Nação.
O gaúcho se gabar
Do seu povo a "pelear".
E o "mineirim" que dizer?
É um povo "bão" de se ver.
Mas digo, afirmo e assino:
Não conheço um nordestino
Que se envergonha de ser.
Francisco Ferreira – glosando motes de Silvano Lyra.
https://polenepedras.blogspot.com/2019/10/poemas-publicados-do-mes-0012019.html