Amor e espinho
Eu tenho andado no mundo/
no solo do rico Sertão/
trovando loas tão belas/
Relembrando as lindas capelas/
de honrosa e Santa devoção/
Meu Canto é trovado com Gosto/
Amor sentimento e saudade/
Desejo crescido em lembrança/
Vontade de sonhar e esperança/
Gostando da felicidade.
Às vezes eu sofro calado/
Guardando no peito o sentir/
Que tudo que a vida me deu/
Se errei o culpado fui eu/
Disse adeus sem querer e partir.
No afago do sonho vivido/
Sou eu mesmo o cravo da dor/
Na mão que espalha o meu sangue/
Forçando o sentir do exangue/
Esvaindo por terra o amor.
Oh amada Donzela inocente/
Sou eu teu amor por inteiro/
Por ti eu cavalgo mil Léguas/
E ao sofrimento dou tréguas/
Para ser teu amor verdadeiro.
Eu sou os Doze pares de França/
Sou Moinhos nesse pé de vento/
Tenho tido nos sonhos da noite/
Os pecados que vem no açoite/
Do dúbio sofrer e tormento.
Teu colo é o meu acalento/
Teu riso o maior broquel/
Teus olhos cintilam poesias/
Traduzem ao vento alegrias/
Nas nuvens que dançam no céu.
Escalo o castelo com os olhos/
Pra te ver minha doce donzela/
Eu subo a torre mais alta/
Feliz meu coração já salta/
Para dentro da tua janela.
Não negues a mim teu amor/
Teu olhar no meu sonho eu vejo/
Te embalo em meus braços princesa/
Tua boca é uma Brasa acesa/
Que aquece por ti meu desejo.
Minha vida exponho em tuas mãos/
Sou de ti o teu servo fiel/
Teu amor teu amante amigo/
Pra te ter desconheço o perigo/
O amargo Eu transformo em mel.
Nos meus sonhos Te vejo cantando/
Uma linda e tão triste canção/
E aparo tuas lágrimas nos dedos/
Pra espantar teus prantos e medos/
Se possível te dou meu coração.
Oh senhora dos meus pensamentos/
Já não cabe um desejo igual/
Bom seria morrer bem distante/
Do que ser do teu amor suplicante/
Dividido entre o bem e o mal.
Oh amado te ouço em mim/
Suplicando enfim meu amor/
Também sinto o mesmo desejo/
Ter você é o que mais almejo/
És meu espinho e serei tua flor.
Carlos Silva.
Poeta, cantador,
Mestre de culturas populares