Alzira Soriano: da luta à glória

Quem nasce pelo Sertão

Pouco conta com a sorte

Pois resiste às intempéries

Que só o deixa mais forte

Não há dor que não extinga

Imitando a caatinga

Dá sacolejo na morte

Os que crescem nesse solo

Não temem qualquer lutar

São guerreiros de nascença

Tendo a terra a lhe moldar

Onde o sol é professor

Cada ser um vencedor

Por jamais se amedrontar

Somos como o juazeiro

Enfrentando a sequidão

Com o seu verde tão vivo

Em meio à desolação

Numa terra ressequida

Sermos fortes nessa vida

É nossa única opção

Eis aqui belo reduto

De uma gente inesquecível

Por fazer em suas vidas

Ser capaz o impossível

Alçando voo pra glória

Mudando de vez a história

Projetando o acessível

Na bela Jardim de Angicos

Em vinte e nove nasceu

Num chuvoso mês de abril

Quando tudo aconteceu

No século dezenove (1897)

O ano tem quem comprove

Noventa e sete se deu

Filha de Miguel Teixeira

Um ilustre coronel

E de dona Margarida

A sua esposa fiel

Registraram a primeira

Luíza Alzira Teixeira

Vasconcelos, no papel.

De Alzira era chamada

Por gente que a conhecia

Prendada e inteligente

Todo mundo percebia

Vendo seu pai liderando

Ela somente observando

Rapidamente aprendia

Se flores são pra jardins

Ela estava no lugar certo

Crescendo cheia de vida

Com toda família perto

Aprendendo todo dia

Prezava a sabedoria

Com um pensamento aberto

E como toda menina

Logo, logo ela cresceu.

Bonita, muito prendada

Um coração respondeu

O dum jovem promotor

Dedicando nobre amor

Assim que ele a conheceu

Nasceu um amor repentino

Tomado pela paixão

Onde Thomaz Soriano

Já pediu a sua mão

Marcando seu casamento

Entre muito juramento

De viver linda união

Foi com dezessete anos

Quando Alzira se casou

Lá no ano de quatorze (1914)

Do século que passou

Marcado no calendário

Bem no seu aniversário

Duplamente festejou

Logo após o casamento

Essa família cresceu

A primogênita Sônia

Muito esperada nasceu

Ismênia chegou depois

Alegria para os dois

Com tudo que aconteceu

Então Maria do Céu

Foi a terceira a nascer

Mas viveu menos de um ano

Encerrando o seu viver

De inocência e de pureza

Causando grande tristeza

Em quem pôde conhecer

Tendo só vinte e dois anos

Já na quarta gravidez

O sina foi mais cruel

Trazendo-lhe a viuvez

Morreu Thomaz Soriano

Pra morar em outro plano

Quem viveu com altivez.

Alzira ficou viúva

Antes da filha nascer

A pequenina Ivonilde

Não deu tempo conhecer

Seu amado genitor

Seu herói, seu protetor.

Outra parte do seu ser

Foi uma triste partida

Que Alzira nunca esperou

Sozinha com as três filhas

Pois jamais imaginou

Mas para quem nasceu forte

Estraga o plano da morte

Como bem nos ensinou

Sofrendo tamanha dor

Renasceu nossa guerreira

Com a fibra nordestina

E a força da brasileira

Com o brilho potiguar

Do Jardim para exalar

Igualdade verdadeira

Na fazenda primavera

Que recebeu como herança

Dada por seu nobre pai

Pra viverem em bonança

Manteve sua morada

Mesmo estando inconformada

Enfrentou com esperança

Apesar da pouca idade

E por uma mulher ser

Naquele tempo machista

Fez a sua voz valer

Tomou conta da Fazenda

Retirando sua renda

Sem de trabalho correr

Na fazenda virou chefe

Em coisa que homem fazia

Comandava com destreza

O trabalho todo dia

Sempre em forma de igualdade

Mostrou a capacidade

Que o machismo reprimia

Devota de são Miguel

O Crochê bem dominava

E da arte da culinária

Para muitas ensinava

Amante da agricultura

Prezava pela cultura

Quando o violão tocava

Um dia Berta Lutz

A feminista famosa

Conheceu nossa guerreira

Percebeu ser virtuosa

Pediu ao governador

Apoie-nos por favor

Nessa causa gloriosa

A mulher é esquecida

Em toda nossa nação

Não tem direito a votar

Nem disputar eleição

Vamos fazer diferente

Mudando daqui pra frente

Essa triste imposição

Alzira é prova viva

Da nossa capacidade

Se lançarmos na política

Teremos prosperidade

Provando nosso valor

No mundo conservador

Limitando a igualdade

E Juvenal Lamartine

Achou a ideia perfeita

Nobre Alzira Soriano

Tu serás uma prefeita

O teu pai vai te indicar

Nós iremos te apoiar

E você será eleita

Em Lajes do Cabugi

Onde Alzira se elegeu

No ano de vinte e oito (1928)

A eleição aconteceu

Primeira mulher eleita

Para o cargo de prefeita

Todo Brasil conheceu

Lajes naquele momento

Tinha uma grande extensão

Jardim de Angicos, Caiçara.

Eram da composição

Com Jandaíra somava

Pedra Preta completava

Essa antiga formação

Venceu Alzira a disputa

Com ótima votação

Sessenta por cento dos (60%)

Votos tidos na eleição

Pois saiu do seu recato

Contra um homem candidato

Senhor Sérvulo Galvão

Só trinta e dois tinha (32)

Quando se elegeu prefeita

Governando por um ano

Mas já saiu satisfeita

Fez estrada e o mercado

Deixou tudo iluminado

Mesmo com pouca receita

Depois que Getúlio Vargas

Deu-nos um golpe de estado

Alzira sai da função

Sentiu o país desgastado

Tornou-se vereadora

De uma forma inspiradora

Pelo seu solo sagrado

Em vinte e oito de maio (28/05)

Do ano sessenta e três (1963)

Morreu nossa pioneira

Que venceu a estupidez

Cravando o nome na história

Desfrutou de toda glória

Pela conquista que fez

Toda América Latina

Viu a queda do machismo

Que imperava na política

Tempo do coronelismo

Veio Alzira Soriano

Mudando esse tempo insano

Eliminando o sexismo

Lajes mostrou para o mundo

Como viver com respeito

Pois provou que cada ser

Merece o mesmo direito

Seja em qualquer posição

Ensinamos à nação

Que a mulher é ser perfeito

Lino Sapo
Enviado por Lino Sapo em 15/08/2019
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